Litíase urinária: como identificar os sintomas
João Varregoso, coordenador da Unidade de Urologia do Hospital Lusíadas Lisboa, explica o que é a litíase urinária e que opções existem para fragmentar e neutralizar as chamadas “pedras” nos rins. O problema afeta uma em cada 100 pessoas, mas em 80% dos casos resolve-se espontaneamente.
O que é a litíase urinária
Dá-se o nome clínico de litíase urinária ou urolitíase quando os sais minerais que existem dissolvidos na urina formam minúsculos cristais que se acumulam até formar pequenos cálculos no aparelho urinário.
As chamadas pedras nos rins — que em casos raros podem surgir na bexiga — são esses aglomerados calcificados, pequenos grãos que podem ter diferentes composições e atingir vários tamanhos.
Ao longo da vida, uma em cada 100 pessoas desenvolve litíase urinária, mas em 80% dos casos os cálculos são de muito pequena dimensão (menos de um centímetro ou até geralmente inferiores a cinco milímetros) e acabam por ser expulsos de forma espontânea, ao urinar. Só aproximadamente uma em cada cinco pessoas necessita de tratamento.
Causas e fatores de risco
Os cálculos urinários podem ter diferentes composições químicas. Segundo a Sociedade Portuguesa de Urologia, os aglomerados de oxalato de cálcio são os mais frequentes (60% dos casos), seguidos das pedras de oxalato de cálcio associado a fosfato de cálcio (20%), ácido úrico (8%), estruvite (8%), fosfato de cálcio (2%), cistina e outros componentes (2%).
A litíase urinária é provocada pela hiper-saturação da urina com um destes sais minerais e/ou uma diminuição da excreção de substâncias que inibem essa formação, como o citrato e o magnésio, entre outras.
Pode estar em causa:
- Um episódio excecional, provocado por insuficiente ingestão de líquidos e consequente desidratação do organismo;
- Uma infeção provocada por bactérias cujo metabolismo implica a produção de substâncias que podem formar cálculos;
- Doenças metabólicas que prejudicam a eliminação de cálcio e/ou outros sais minerais.
Sintomas
A litíase urinária pode desenvolver-se ao longo de vários anos, de forma lenta e sem se fazer notar. Pode ocupar todo o interior do rim, formando um cálculo coraliforme, assim chamado por ficar com a forma de um coral.
Este tipo de cálculo “provoca sintomas muito vagos, como sensações de mal-estar, falta de apetite, náuseas e má disposição, que na maioria das vezes são interpretados como sinais de um problema digestivo”, descreve João Varregoso.
“Só existe dor quando o cálculo se solta e vai bloquear o uréter. A cólica renal resulta da obstrução à passagem da urina e da consequente dilatação do rim, provocada pela urina retida”, explica o especialista. As temidas pontadas, que irradiam da zona do flanco e muitos comparam às dores de parto, são características da cólica renal, que se faz acompanhar de náuseas, vómitos e, em casos raros, febre.
Para os médicos, são igualmente sinais de alerta queixas de ardor e necessidade de urinar com maior frequência. “Quando são eliminados pelo uréter e ao passarem pela parede da bexiga, os cálculos provocam uma pequena inflamação que causa sintomas semelhantes aos de uma infeção urinária”, diz o urologista. Nessas situações, é recomendado o despiste da presença de cálculos no aparelho urinário.
Diagnóstico
Perante um quadro de cólica renal, infeção e/ou suspeita da presença de cálculos no aparelho urinário, o médico faz a sua avaliação clínica com recurso a análises ao sangue e urina, bem como a exames de imagem. “Os cálculos de ácido úrico não são visíveis por raios X e pode ser necessário recorrer a uma TAC (Tomografia Axial Computorizada)”, explica João Varregoso.
Tratamento
A composição química do cálculo em causa não é relevante para a opção de tratamento. Já o tamanho da “pedra”, esse sim, é determinante. Os médicos têm hoje diversos métodos à disposição:
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Tratamento farmacológico
No caso dos cálculos de ácido úrico, que resultam da acidez excessiva da urina, é possível ultrapassar a situação com recurso a medicamentos. Uma vez alcalinizado o pH da urina, por ação farmacológica, os cálculos de ácido úrico dissolvem-se espontaneamente. Trata-se de uma solução fácil, mas algo demorada, que pode revelar-se pouco prática ou mesmo desadequada, consoante o tamanho da pedra e respetiva localização.
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Litotrícia Extracorporal por Ondas de Choque (LEOC)
A técnica consiste na destruição de cálculos com recurso ao litotritor, um equipamento capaz de gerar ondas de choque que são orientadas para o cálculo, de modo a pulverizá-lo. Cálculos até 15 mm ou 20 mm poderão ser tratados através desta técnica e a intensidade da onda de pressão é controlada de acordo com a tolerância da pessoa.
O tratamento pode ser feito com recurso a analgesia ou sedação. “É um método pouco invasivo, mas também o menos eficaz”, explica o urologista. São necessários três ou quatro mil choques para conseguir fragmentar as pedras.
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Ureteroscopia
A fragmentação do cálculo é realizada por método endoscópico. A utilização da fibra de laser é feita através da bexiga e dos canais da uretra até ao rim. Trata-se de um procedimento relativamente simples, que é feito sem necessidade de incisões ou cortes em ambulatório ou com internamento de 24 horas.
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Cirurgia percutânea do rim
Os cálculos de maior dimensão exigem uma cirurgia percutânea, com introdução de nefroscópio de até 8mm de diâmetro, de forma a permitir a ação de um litotritor e a fragmentação mecânica dos cálculos. Segundo João Varregoso, “por implicar punções, esta cirurgia tem algum risco de hemorragia significativa, ainda para mais sendo o rim uma zona que é altamente vascularizada”.
Prevenção
A melhor forma de evitar a recorrência de litíase urinária é garantir uma boa hidratação. “Se a pessoa consegue urinar mais de dois litros de urina por dia, o risco é reduzido”, assegura o coordenador da Unidade de Urologia do Hospital Lusíadas Lisboa.
Ingerir líquidos de hora a hora e observar se a urina se mantém num tom amarelo-claro, cor que garante uma boa diluição, são conselhos a seguir.
Nos casos de doença litiásica intensa, o médico poderá pedir um estudo metabólico e fazer algumas recomendações, mas as alterações na alimentação são menos restritivas do que antigamente. “Em relação aos laticínios, atualmente não se aconselha a sua retirada total. A medida só teria interesse para pessoas com excesso de cálcio na urina e, além disso, estudos recentes vieram demonstrar que o cálcio se liga nos intestinos aos oxalatos, fazendo com que essa molécula não seja absorvida”, explica João Varregoso.