A comida picante provoca úlceras?
A úlcera péptica é uma lesão na mucosa, a camada de revestimento interno dos órgãos do sistema gastrointestinal, que pode provocar dores, desconforto e, em casos graves, originar hemorragias internas e infeções.
É um problema bastante comum que em todo o mundo afeta 4 milhões de pessoas por ano. Pode aparecer no estômago (úlcera gástrica), mas também no esófago (úlcera esofágica), ou na primeira parte do intestino delgado (úlcera duodenal).
A maioria das úlceras leva 6 a 8 meses a cicatrizar e é detetada normalmente através de uma endoscopia (exame que permite observar o interior do sistema digestivo).
Como se manifesta
Apesar de quase ¾ das pessoas não apresentar queixas – segundo dados da prestigiada Mayo Clinic –, o principal sintoma da úlcera péptica é a dor na zona abdominal, a cerca de 3 ou 4 cm do umbigo, que ocorre normalmente 2 a 3 horas após as refeições. A dor, descrita muitas vezes como queimadura, intensifica-se quando o suco gástrico (substância ácida produzida no estômago durante a digestão) entra em contacto com a ferida. Podem surgir outras queixas como vómitos, dificuldade de digestão, perda de peso e de apetite e fezes muito escuras ou avermelhadas. Nos casos mais graves, as pessoas começam por apresentar hemorragia, com perda de sangue nas fezes (melenas) ou vómitos (hematemeses).
“Muitas vezes a pessoa não se apercebe das características das fezes e recorre à unidade de urgência pelo desmaio, causado pela anemia associada à perda de sangue contínua”, explica o gastrenterologista André Ramos do Hospital Lusíadas Albufeira e da Clínica Lusíadas Faro. Quando há perfuração da parede do intestino, as pessoas apresentam dores intensas e rigidez abdominal. Nessas situações, devem recorrer à unidade hospitalar mais próxima o mais rapidamente possível.
Causas
A maioria das úlceras pépticas é provocada pela bactéria Helicobacter pylori e pelo consumo de anti-inflamatórios e de antiagregantes plaquetários (ácido acetilsalicílico [aspirina], ticlopidina ou clopidogrel). Outros fatores como envelhecimento, histórico familiar, diabetes e consumo de tabaco e de café aumentam a probabilidade de desenvolver a patologia.
Tratamento das úlceras
Em casos não complicados, o tratamento passa pela eliminação dos fatores de risco, como anti-inflamatórios, por exemplo. Por norma, os especialistas prescrevem antiácidos e antibióticos, que erradicam a bactéria Helicobacter pylori. Em situações mais graves (hemorragia e perfuração), pode optar-se pelo tratamento endoscópico.
“Usamos várias técnicas, desde a injeção de esclerosantes [medicamentos] na úlcera à semelhança do que se faz nas varizes das pernas; passando pela utilização de métodos térmicos com sondas que aplicam corrente elétrica para cauterização e, finalmente, métodos mecânicos, com recurso a uma espécie de clip metálico para encerramento dos vasos da úlcera”, explica André Ramos. Se este método não for eficaz, passa-se à radiologia de intervenção ou à cirurgia.
A comida picante provoca úlceras?
Os alimentos picantes não são responsáveis pelo aparecimento de úlceras, assegura a Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva. Há inclusive um artigo publicado na Critical Reviews in Food Science and Nutrition que refere que há um tipo de pimenta – a chili – que previne o aparecimento de úlceras, por causa do seu componente ativo, a capsaicina. De forma geral, e apesar de não ser uma das causas das úlceras, muitos especialistas recomendam que as pessoas diminuam o consumo de comida picante, sobretudo se após a sua ingestão sentirem dor ou ardor. Estes alimentos podem irritar a mucosa e agravar os sintomas.
Em suma
A comida picante não provoca úlceras. Ainda assim, os médicos recomendam que se restrinja o seu consumo para evitar que o problema se agrave.
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Revisão Científica
Dr. André Ramos
Coordenador da Unidade de Gastrenterologia