O que é a dermatite atópica e qual o tratamento
A dermatite atópica é uma doença inflamatória crónica e recorrente da pele, que afeta entre 13 e 25% das crianças e entre 1 e 10% dos adultos, nos países desenvolvidos, diz Iolanda Alen Coutinho, especialista em Imunoalergologia, na Clínica Lusíadas Gaia.
Os sintomas e as causas da dermatite atópica
“É difícil definir a dermatite atópica, devido à sua enorme heterogeneidade em termos clínicos, de gravidade e evolução”, diz a especialista. Ainda assim, as características essenciais são “lesões eczematosas, prurido intenso e uma evolução crónica ou recidivante.”
Também as causas são de difícil definição, por serem complexas e multifatoriais, com uma componente genética importante, mas também ambiental. “O fator de risco mais forte conhecido é a história familiar de doenças atópicas, como dermatite atópica, asma, rinite, ou outras”, afirma a especialista. Por isso, a elevada hereditariedade sugere “um elevado contributo da genética na sua fisiopatologia, principalmente em mutações da filagrina (proteínas de agregação filamentar do extrato córneo da pele)”.
Ao mesmo tempo, a dermatite atópica combina “disfunção da barreira epitelial, inflamação cutânea, desregulação do sistema imune cutâneo e sistémico, e alterações do microbioma bacteriano cutâneo.”
Mais comum em crianças
Apesar de se poder manifestar em qualquer fase da vida, “o pico de incidência ocorre em cerca de 45% nos primeiros seis meses de vida, 60% no primeiro ano e 80-90% antes do quinto ano de vida”.
Por outro lado, na população portuguesa, “estima-se que 0,7 a 1,6% da população adulta tenha dermatite atópica, com base em consultas de Dermatologia em 2017, dos quais 15 a 40% tinha doença moderada a grave.”
Dados mais recentes sugerem que “a proporção de doentes com doença persistente ou de início em idade adulta tem vindo a aumentar”, com um em cada quatro pessoas com dermatite atópica a reportarem o início da doença em idade adulta.
Os tratamentos
O tratamento da dermatite atópica varia em função da gravidade.
”O objetivo primário do tratamento é reduzir o prurido e estabelecer um controlo persistente da doença. É fundamental a identificação de fatores desencadeantes individuais e a sua evicção para a manutenção e controlo da doença”, afirma a médica. Por isso, a terapêutica base assenta “no controlo da disfunção da barreira cutânea através de cuidados específicos na higiene da pele e aplicação de cremes ou bálsamos emolientes que apresentam propriedades humidificantes, agentes oclusivos e ingredientes ativos que auxiliam no controlo do microbioma da pele.”
Dependendo da gravidade, o tratamento “pode também incluir terapêuticas tópicas corticoesteróides, inibidores de calcineurina, inibidores selectivos de fosfodiesterase e inibidores de Janus Kinase”.
Para os doentes mais graves, as terapêuticas sistémicas podem ser uma opção e, dependendo de cada caso individual, “existem diversos fármacos disponíveis, de que são exemplo os corticoides orais, ciclosporina, inibidores da Janus Kinase, e agentes biológicos como o dupilumab.”
Por outro lado, a imunoterapia específica “tem lugar em doentes selecionados cujas exacerbações se relacionam com a exposição a alergénios.”
Como prevenir?
Dada a prevalência de dermatite atópica em crianças, a prevenção faz-se logo no período perinatal (entre as 22 semanas completas de gestação e os sete dias completos após o nascimento).
“Tem como alvo a barreira cutânea e os aspetos imune/alérgicos e ambientais, através do uso diário de emolientes em recém-nascidos com risco elevado de dermatite atópica, tendo em conta a sua história familiar, bem como minimizar a exposição desencadeantes alérgicos e irritativos.”