O que é a pica e quais os tratamentos
Inapropriada ao desenvolvimento do indivíduo, a pica é uma perturbação do comportamento alimentar caracterizada pela ingestão persistente de uma ou mais sustâncias não nutritivas, durante um período mínimo de um mês.
O diagnóstico é realizado em indivíduos com idade igual ou superior a dois anos, para excluir a exploração normal de objetos com a boca característica das crianças.
Quais as substâncias ingeridas por pessoas com pica
Nesta condição, normalmente, não existe aversão a alimentos. Papel, sabão, terra, giz, tinta, cola, pedras, detergente e cinzas são exemplos de substâncias tipicamente ingeridas por indivíduos diagnosticados com pica. No entanto, o que é ingerido varia de acordo com a idade do indivíduo, bem como com a disponibilidade de substâncias.
Em certas culturas, este comportamento alimentar é considerado comum. Por exemplo, na população africana, ingere-se terra ou argila para aumentar a fertilidade, aliviar sintomas desconfortáveis durante a gestação e garantir a saúde do feto. Nos casos em que esta prática é aceite e até encorajada por uma cultura específica, não pode ser considerada uma perturbação do comportamento alimentar.
Contudo, é importante salientar que a ingestão frequente de substâncias não alimentares pode dar origem a diversas complicações, tais como obstrução intestinal, perfuração intestinal, deficiências nutricionais, intoxicações e, consequentemente, problemas neurológicos.
As causas e os fatores de risco
Embora não se conheçam as causas exatas da pica, identificaram-se alguns fatores de risco para o seu desenvolvimento, nomeadamente:
- Episódios de stresse e ansiedade
- Experiências traumáticas
- Perturbações psiquiátricas subjacentes (perturbação do espectro autista, deficiência intelectual, perturbação obsessiva-compulsiva e esquizofrenia) e epilepsia
- Este comportamento alimentar pode, também, ocorrer no contexto de uma gestação
- A prevalência desta perturbação alimentar é desconhecida, visto que é uma prática raramente relatada em consultas, devido a relutância dos indivíduos em admitir a ingestão destas substâncias.
Os tratamentos
Tendo em vista a sua possível origem multifatorial, esta perturbação pode requer tratamento psicológico, psiquiátrico e nutricional:
- A intervenção psicológica com abordagem cognitivo-comportamental pretende a alteração do comportamento através de técnicas de exposição, autovigilância, prevenção de respostas, entre outras.
- A terapêutica farmacológica tem como objetivo a redução dos sintomas de ansiedade e das compulsões. O tratamento farmacológico para gestantes é seguro e possui baixo risco fetal — caso não se proceda ao tratamento, a ingestão contínua de substâncias não alimentares poderá afetar o feto, especialmente se envolver ingestão de substâncias tóxicas.
- A intervenção nutricional visa a avaliação do estado nutricional, que é imprescindível para verificar a presença de perda de peso e/ou a existência de deficiências nutricionais.
Caso se identifique com estes comportamentos ou conheça alguém que os pratique, converse com o seu médico. Não tenha vergonha do problema, nem medo do tratamento. O tratamento de pica é eficaz e é realizado por profissionais sensíveis ao problema.
Realizado por:
Laura Duarte, neuropsicóloga do Hospital Lusíadas Amadora
Beatriz Vieira, nutricionista do Hospital Lusíadas Amadora