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Gravidez tardia: ser mãe aos 40

Colaboração
Ser mãe aos 40 já não causa estranheza. Nas últimas décadas registou-se um aumento do número de mulheres que optam pela maternidade muito após os 35 anos e se, por um lado, existem maiores riscos associados à gravidez tardia, por outro as mulheres sentem-se mais seguras no papel de mãe.

Ana Queimado, 42 anos, está ansiosa com a chegada do primeiro filho. Passou por uma gravidez tardia, que apareceu quase como uma surpresa para uma mulher que “já não estava à espera de realizar esse sonho”. Ana queria que o filho tivesse um pai à altura e por esse motivo foi adiando a maternidade.

“Estive alguns anos sem ter um relacionamento e cheguei a desistir da ideia de ser mãe”, conta. Mas a vida e o amor surpreenderam-na. De repente, com mais de 40 anos, tinha um teste de gravidez positivo na mão. “Foi uma surpresa e uma grande alegria para nós, mas a ansiedade aumentava a cada dia, por mais exames que fizesse”, confessa, revelando que realizou todos os testes de diagnóstico, incluindo a amniocentese.

Ansiedades de uma gravidez tardia

Para esta auxiliar de infantário num colégio privado, a sua maturidade, aliada à experiência profissional, vão contribuir para “encarar com outra calma algumas situações com que, provavelmente, aos 20 anos não saberia lidar”. Ainda assim, a idade, apesar de sapiente, também traz algumas inquietações: “Será que vou ter tempo de acompanhar o meu filho convenientemente? Já estou preparada para chegar à creche e ouvir os amiguinhos dele dizerem ‘chegou a tua avó’. Mas não faz mal, tê-lo é a maior alegria.”

As mães deste século: fatores de risco

“O fenómeno da gravidez tardia tem muito a ver com a cultura da mulher atual. Primeiro há um prolongamento da sua atividade escolar, depois pretende cimentar a carreira e, ao encontrar um parceiro, quer primeiro desfrutar da vida em comum. Quando se apercebe, os anos passaram…”, refere, a propósito, Joaquim Gonçalves, coordenador da Unidade de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Lusíadas Porto.

O clínico alerta as pacientes para as desvantagens de engravidar longe da “baliza ideal”, entre os 27 e os 32 anos, mas salienta que com um acompanhamento médico correto chega a bom porto. É sobretudo a partir dos 35 anos que existe uma maior probabilidade de surgirem doenças genéticas ou os abortos espontâneos numa fase inicial da gestação.

“Por exemplo, a Trissomia 21 tem uma prevalência de 1/ 2000 aos 34 anos, aos 35 anos é de 1/ 200 e aos 40 anos é de 1/ 50”, elucida o obstetra. De entre outros fatores de risco a que os médicos e as mulheres têm de dar muita atenção está a pré-eclâmpsia: "Um quadro de hipertensão na gravidez é perigoso e por vezes não é possível prevenir, assim como o parto pré-termo e a diabetes gestacional.”

Como tal, defende um seguimento clínico acautelado às mães com mais de 35 anos e a realização de alguns exames. “A fiabilidade do método dos marcadores bioquímicos é cada vez maior e já conseguimos deferir muitas situações. A partir dos 38 anos realizamos outros exames, como a amniocentese e a biópsia coriónica, e há agora testes que analisam o ADN do feto no sangue materno.”

Gravidez tardia: “Se soubesse o que sei hoje”

Mas será este um estado só de preocupações? “Claro que não são só desvantagens. A conceção é sempre motivo de entusiasmo. E as mulheres que querem ter filhos a partir dos 35 anos têm mais rigor na abordagem desta decisão. E uma gravidez planeada é sempre mais bem estruturada”, destaca o obstetra.

Tânia Torre foi mãe a primeira vez aos 35 e a segunda aos 38. A maternidade nunca foi uma aspiração para esta engenheira do ambiente que colocou como prioridade a carreira profissional e as viagens que gostava de fazer “sem preocupações”. No entanto, depois de “conhecer a pessoa certa”, viu chegar o Gonçalo e o Guilherme e agora até lamenta não ter ainda mais filhos.

“Confesso que não era um sonho”, conta, bem-disposta, para desabafar: “Se soubesse o que sei hoje talvez tivesse tentado mais cedo, porque quando eles tiverem 10 anos terei quase 50 e receio já não ter a mesma agilidade.” Por outro lado, a maturidade que sente atualmente fá-la ter maior segurança na educação dos filhos e isso, como destaca, é uma grande vantagem.

“Aos 20-30 anos entraria em pânico muito mais facilmente com os problemas associados a uma gravidez ou ao crescimento de um bebé. Antes de ser mãe devorei tudo o que era livro sobre gravidez, amamentação, crianças… se o teria feito aos 20 anos? … Duvido!”.

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Dr. Joaquim Gonçalves

Dr. Joaquim Gonçalves

Hospital Lusíadas Porto
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