Como é que o estilo de vida influencia as doenças alérgicas?
As doenças alérgicas afetam uma percentagem importante da população. Apesar de haver uma componente genética importante na origem das reações alérgicas, o estilo de vida também influencia este problema de saúde.
Nas últimas décadas, o aumento de higiene, o uso de antibióticos e a consequente diminuição de doenças infeciosas durante a infância tornou as alergias mais frequentes no mundo ocidental. Esta é uma evolução epidemiológica que afeta a população em geral, mas existem também consequências do estilo de vida de cada pessoa no desenvolvimento de doenças alérgicas, como, por exemplo, a alergia após a exposição ao látex em profissionais de saúde que usam luvas de borracha.
“A exposição a elementos aos quais os indivíduos estão sensibilizados, nomeadamente a alimentos, aeroalergénios ou outros pode desencadear manifestações de alergia”, explica Susana Lopes da Silva, especialista e coordenadora da Unidade de Imunoalergologia do Hospital Lusíadas Lisboa.
O que é a alergia?
Antes de tudo, o que é a alergia? “As alergias são reações exageradas do nosso organismo a estímulos do meio ambiente — alimentos, medicamentos ou alergénios do ar como ácaros, pólenes, epitélios de animais —, que são bem tolerados pela maior parte dos indivíduos”, explica a médica.
Embora haja uma predisposição genética para um indivíduo em particular ter uma reação alérgica a um estímulo ambiental, para o desenvolvimento desta condição contribuem também vários fatores externos, bem como a história de vida de cada pessoa.
“As alergias são reações mediadas pelo sistema imunitário, por diferentes mecanismos e envolvendo diferentes órgãos ou sistemas, resultando, assim, em manifestações clínicas variadas (respiratórias, cutâneas, gastrointestinais, etc) que podem afetar todos os escalões etários, sendo de gravidade variável desde reações ligeiras a fatais”, indica Susana Lopes da Silva.
A reação alérgica pressupõe uma fase de sensibilização assintomática em que o organismo entra em contato com o alergénio. “É muito importante salientar que a reação alérgica é tipicamente reprodutível em contactos subsequentes e ocorre mesmo para quantidades muito pequenas do alergénio a que o alérgico está exposto”, salienta a médica.
Tipos de alergias
Há vários tipos de alergias. As manifestações clínicas dependem do mecanismo imunitário que provoca a alergia, assim como do órgão-alvo envolvido.
Uma fatia importante das alergias afeta as vias respiratórias e os pulmões. Normalmente, são desencadeadas por aeroalergénios, como os pólenes e os ácaros, provocando rinite, sinusite e/ou asma.
Outro grupo de alergias afeta a pele, manifestando-se através da urticária e de eczema.
“As alergias a alimentos, a medicamentos ou a picadas de insetos, entre outros desencadeantes, podem ainda afetar outros órgãos ou sistemas, como o aparelho gastrointestinal, traduzindo-se em quadros imediatos ou tardios de náuseas, vómitos ou diarreia, entre outros”, acrescenta a médica.
É preciso considerar ainda reações graves como o choque anafilático ou o edema da glote, reações alérgicas agudas, potencialmente fatais, que podem ser causadas por diferentes tipos de alergénios como medicamentos, alimentos, venenos de himenópteros e o látex.
Estilo de vida e doenças alérgicas
O estilo de vida impacta na epidemiologia das doenças alérgicas.
Um dos exemplos que Susana Lopes da Silva expõe está ligado à melhoria das condições de saúde. “Nas últimas décadas, tem vindo a aumentar a prevalência de doença alérgica em particular entre a população ocidental. A utilização de antibióticos, a vacinação e a melhoria das condições sanitárias contribuem para diminuir as infeções na primeira infância. Este facto condiciona o desenvolvimento do sistema imunitário favorecendo o predomínio de um tipo de inflamação, que promove as manifestações alérgicas em detrimento da imunidade dirigida contra agentes infeciosos essencialmente bacterianos”, relata a médica.
“A alteração do microbioma do intestino, que resulta também destes fatores, influencia igualmente o sistema imunitário do indivíduo e favorece o desenvolvimento de alergias.”
“Nos últimos dois anos há a destacar o aumento da permanência em espaços interiores que, em muitos casos, agravou as manifestações associadas à exposição a ácaros, humidade ou pelos de animais de companhia”, exemplifica a médica. “Pelo contrário, a prática de atividades ao ar livre em indivíduos sensibilizados a aeroalergénios do ar exterior também pode propiciar a ocorrência de sinais e sintomas de alergia nos indivíduos afetados.”
Outro fator de risco é a exposição a alergénios que estão associados a atividades profissionais, como o caso do látex pelos profissionais de saúde que usam luvas fabricadas com este material ou alguns tipos de farinhas usadas pelos padeiros. Estes tipos de práticas profissionais podem associar-se “a quadros graves de alergia ocupacional”, aponta a especialista.
Poluição e tabagismo
Um dos efeitos negativos da poluição que se vive nas grandes cidades, resultante da atividade industrial e dos fumos lançados pelos tubos de escape dos automóveis, é o de aumentar a gravidade das alergias.
“Os poluentes tornam os pólenes mais alergénicos e facilitam a sua entrada no aparelho respiratório. A exposição a poluentes é um fator de risco para a sensibilização a aeroalergénios, mas também para o agravamento do quadro clínico dos doentes alérgicos”, diz Susana Lopes da Silva. Sendo a primavera a altura do ano com maior quantidade de pólenes na atmosfera, é nesta estação que a poluição se torna mais grave no que toca às alergias.
O tabaco também potencia este problema, já que é um dos fatores de maior risco para a asma infantil.
Como minimizar estes impactos
O diagnóstico correto da causa das alergias é a melhor estratégia forma para poder minimizar a exposição aos desencadeantes identificados, prevenindo-se, desta forma, novos episódios alérgicos.