4 min

Como é que o estilo de vida influencia as doenças alérgicas?

Fatores tão diferentes como a higiene, a poluição ou a pandemia podem ter impacto nas alergias.

As doenças alérgicas afetam uma percentagem importante da população. Apesar de haver uma componente genética importante na origem das reações alérgicas, o estilo de vida também influencia este problema de saúde. 

Nas últimas décadas, o aumento de higiene, o uso de antibióticos e a consequente diminuição de doenças infeciosas durante a infância tornou as alergias mais frequentes no mundo ocidental. Esta é uma evolução epidemiológica que afeta a população em geral, mas existem também consequências do estilo de vida de cada pessoa no desenvolvimento de doenças alérgicas, como, por exemplo, a alergia após a exposição ao látex em profissionais de saúde que usam luvas de borracha. 

“A exposição a elementos aos quais os indivíduos estão sensibilizados, nomeadamente a alimentos, aeroalergénios ou outros pode desencadear manifestações de alergia”, explica Susana Lopes da Silva, especialista e coordenadora da Unidade de Imunoalergologia do Hospital Lusíadas Lisboa.

O que é a alergia?

Antes de tudo, o que é a alergia? “As alergias são reações exageradas do nosso organismo a estímulos do meio ambiente — alimentos, medicamentos ou alergénios do ar como ácaros, pólenes, epitélios de animais —, que são bem tolerados pela maior parte dos indivíduos”, explica a médica.

Embora haja uma predisposição genética para um indivíduo em particular ter uma reação alérgica a um estímulo ambiental, para o desenvolvimento desta condição contribuem também vários fatores externos, bem como a história de vida de cada pessoa.

“As alergias são reações mediadas pelo sistema imunitário, por diferentes mecanismos e envolvendo diferentes órgãos ou sistemas, resultando, assim, em manifestações clínicas variadas (respiratórias, cutâneas, gastrointestinais, etc) que podem afetar todos os escalões etários, sendo de gravidade variável desde reações ligeiras a fatais”, indica Susana Lopes da Silva.

A reação alérgica pressupõe uma fase de sensibilização assintomática em que o organismo entra em contato com o alergénio. “É muito importante salientar que a reação alérgica é tipicamente reprodutível em contactos subsequentes e ocorre mesmo para quantidades muito pequenas do alergénio a que o alérgico está exposto”, salienta a médica.

Tipos de alergias

Há vários tipos de alergias. As manifestações clínicas dependem do mecanismo imunitário que provoca a alergia, assim como do órgão-alvo envolvido.

Uma fatia importante das alergias afeta as vias respiratórias e os pulmões. Normalmente, são desencadeadas por aeroalergénios, como os pólenes e os ácaros, provocando rinite, sinusite e/ou asma. 

Outro grupo de alergias afeta a pele, manifestando-se através da urticária e de eczema. 

“As alergias a alimentos, a medicamentos ou a picadas de insetos, entre outros desencadeantes, podem ainda afetar outros órgãos ou sistemas, como o aparelho gastrointestinal, traduzindo-se em quadros imediatos ou tardios de náuseas, vómitos ou diarreia, entre outros”, acrescenta a médica.

É preciso considerar ainda reações graves como o choque anafilático ou o edema da glote, reações alérgicas agudas, potencialmente fatais, que podem ser causadas por diferentes tipos de alergénios como medicamentos, alimentos, venenos de himenópteros e o látex.   

Estilo de vida e doenças alérgicas

O estilo de vida impacta na epidemiologia das doenças alérgicas.

Um dos exemplos que Susana Lopes da Silva expõe está ligado à melhoria das condições de saúde. “Nas últimas décadas, tem vindo a aumentar a prevalência de doença alérgica em particular entre a população ocidental. A utilização de antibióticos, a vacinação e a melhoria das condições sanitárias contribuem para diminuir as infeções na primeira infância. Este facto condiciona o desenvolvimento do sistema imunitário favorecendo o predomínio de um tipo de inflamação, que promove as manifestações alérgicas em detrimento da imunidade dirigida contra agentes infeciosos essencialmente bacterianos”, relata a médica. 

“A alteração do microbioma do intestino, que resulta também destes fatores, influencia igualmente o sistema imunitário do indivíduo e favorece o desenvolvimento de alergias.”

“Nos últimos dois anos há a destacar o aumento da permanência em espaços interiores que, em muitos casos, agravou as manifestações associadas à exposição a ácaros, humidade ou pelos de animais de companhia”, exemplifica a médica. “Pelo contrário, a prática de atividades ao ar livre em indivíduos sensibilizados a aeroalergénios do ar exterior também pode propiciar a ocorrência de sinais e sintomas de alergia nos indivíduos afetados.”

Outro fator de risco é a exposição a alergénios que estão associados a atividades profissionais, como o caso do látex pelos profissionais de saúde que usam luvas fabricadas com este material ou alguns tipos de farinhas usadas pelos padeiros. Estes tipos de práticas profissionais podem associar-se “a quadros graves de alergia ocupacional”, aponta a especialista.

Poluição e tabagismo

Um dos efeitos negativos da poluição que se vive nas grandes cidades, resultante da atividade industrial e dos fumos lançados pelos tubos de escape dos automóveis, é o de aumentar a gravidade das alergias. 

“Os poluentes tornam os pólenes mais alergénicos e facilitam a sua entrada no aparelho respiratório.  A exposição a poluentes é um fator de risco para a sensibilização a aeroalergénios, mas também para o agravamento do quadro clínico dos doentes alérgicos”, diz Susana Lopes da Silva. Sendo a primavera a altura do ano com maior quantidade de pólenes na atmosfera, é nesta estação que a poluição se torna mais grave no que toca às alergias.

O tabaco também potencia este problema, já que é um dos fatores de maior risco para a asma infantil.  

Como minimizar estes impactos

O diagnóstico correto da causa das alergias é a melhor estratégia forma para poder minimizar a exposição aos desencadeantes identificados, prevenindo-se, desta forma, novos episódios alérgicos.
 

Ler mais sobre

Alergias

Este artigo foi útil?

Revisão Científica

Dra. Susana Lopes da Silva

Dra. Susana Lopes da Silva

Hospital Lusíadas Lisboa

Especialidades em foco neste artigo

Especialidades em foco neste artigo

PT