Otoplastia: uma cirurgia de correção das orelhas
Tal como outras regiões da face, as orelhas também podem ser alvo de cirurgia plástica quando é necessário fazer uma correção anatómica. “A otoplastia é uma técnica cirúrgica que consiste na correção de deformidades congénitas ou adquiridas do pavilhão auricular”, explica António Conde, médico de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva do Hospital Lusíadas Porto.
As orelhas descoladas, também conhecidas por “orelhas de abano”, são uma das causas que com maior frequência levam à realização deste procedimento. Mas há várias situações médicas em que esta cirurgia é fundamental.
Porquê a otoplastia
Crianças e jovens que tenham orelhas com uma forma pouco habitual são muitas vezes alvo de atenção e comentários indesejados No caso das orelhas descoladas, a otoplastia é a solução.
De acordo com o cirurgião, nas orelhas descoladas, a otoplastia repõe a forma da ante-helix (parte mais saliente do centro da orelha), que se encontra ausente ou mal definida, aproximando também a concha (parte mais profunda da orelha) ao crânio.
Mas há outras deformações que ocorrem no desenvolvimento embrionário que podem ser alvo da otoplastia. Uma delas é a microtia, que é a mais grave das deformidades congénitas, em que a orelha não se forma totalmente, sendo, em alguns casos, tão pequena que chega a tapar o canal auricular. Outras deformações alvo deste tipo de cirurgia são a orelha constrita e a orelha de Stahl.
Apesar de a otoplastia ser apropriada para qualquer idade, os médicos recomendam que esta intervenção seja realizada em idade pré-escolar de forma a evitar “constrangimentos naturais do convívio escolar”, explica António Conde. “Todavia, quando tal não é feito, é muito frequente a correção acontecer na vida adulta, muito particularmente nos homens.”
Cuidados antes da cirurgia
Uma vez que a otoplastia é um procedimento que se prende muito com questões ligadas à autoestima, um dos aspetos mais importantes desta cirurgia — que evita sentimentos de frustração no pós-operatório — é a compreensão de todo o procedimento.
Isto porque "a complicação mais frequente no pós-operatório, particularmente no homem adulto, é a apreciação do resultado de um modo obsessivo em que as pequenas assimetrias ou defeitos são amplificados”, refere António Conde.
É por este motivo que a consulta pré-operatória é tão importante. Seja uma criança ou um adulto, a pessoa é observada pelo cirurgião, que faz o diagnóstico do problema, explicando todo o processo cirúrgico, os riscos e as possíveis sequelas do procedimento.
É também nesta sessão que o especialista aborda a questão ligada às expectativas sobre o resultado final. “De particular importância é explicar bem ao que a simetria e a perfeição total provavelmente nunca serão conseguidas em nenhum procedimento cirúrgico”, avisa o cirurgião.
É também nesta fase que quem vai ser submetido ao procedimento tem a oportunidade de colocar todas as questões. “Somente assim o doente se sentirá devidamente esclarecido e consequentemente confiante na decisão de avançar para o tratamento cirúrgico”, garante o médico.
Como acontece a cirurgia?
Para a realização da cirurgia, é necessário garantir que o paciente reúna todas as condições de saúde necessárias para que possa ser submetido à anestesia e ao próprio ato cirúrgico. “Uma boa parte dos doentes pode inclusivamente ser operado sob anestesia local ou com sedação”, acrescenta António Conde.
“A cirurgia em mãos experientes é extremamente simples”, tranquiliza o médico. No caso das orelhas descoladas, o procedimento passa por reproduzir uma ante-helix a partir de suturas feitas na cartilagem e por promover a aproximação do pavilhão auricular à concha do crânio, a partir de suturas feitas neste último.
Já na microtia, “a otoplastia envolve técnicas mais complexas de reconstrução, como enxertos de cartilagem e retalhos compostos”, explica o especialista.
Muitas vezes, operam-se ambas as orelhas, já que é muito frequente a deformação anatómica envolver os dois pavilhões auriculares. A finalização da cirurgia passa por aplicar um penso confortável e protetor. Quando a cirurgia é feita sob anestesia local, o doente pode ter alta depois de o procedimento estar finalizado. É necessário ainda o uso de uma fita elástica, especialmente à noite, para proteger de possíveis traumas.
“O resultado é normalmente muito bom, sendo que a sequela cicatricial é mínima e, sobretudo, de difícil visualização”, assegura António Conde.
Pós-operatório e riscos
O risco maior da cirurgia é o desenvolvimento de uma infeção. Por isso, é necessária a toma de um antibiótico, entre outras precauções. Já a dor “não costuma ser um problema importante, sendo facilmente controlada com a prescrição de analgésicos.”
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Revisão Científica
Dr. António Conde
Coordenador da Unidade de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva