Apendicite: identificar, diagnosticar e tratar
Sente uma dor súbita que começa em torno do umbigo e que se desloca para o lado direito da zona inferior do abdómen? E é mais intensa quando tenta movimentar-se? E também é acompanhada por náuseas, vómitos, perda de apetite e febre? Pode ser o primeiro sinal de alerta. Se a dor se situar do lado direito do abdómen e se mantiver durante algumas horas ou se se tornar mais aguda e intensa, então é possível que se trate de um problema mais grave, denominado apendicite. Carmen Maillo, da Unidade de Cirurgia Geral do Hospital Lusíadas Lisboa, explica o que é esta patologia.
O que é o apêndice?
O apêndice cecal é uma pequena extensão tubular terminada em fundo cego, localizada na primeira porção do intestino grosso ou cólon. Tem um comprimento médio de cerca de 5 centímetros.
Causas da apendicite
A causa mais frequente de apendicite é a obstrução do apêndice que produz um sobre-crescimento bacteriano desencadeando o processo inflamatório da apendicite. A obstrução pode ser:
De causa intraluminal
De causa extraluminal
- Aumento dos gânglios linfáticos (adenopatia);
- Membrana que se forma, em geral após um processo inflamatório, que pode comprimir um órgão ou tecido (brida);
- Outros.
Sinais de que pode estar com uma apendicite
O quadro mais comum da apendicite começa por uma dor na parte média do abdómen, periumbilical, mal definida, que posteriormente se localiza na fossa ilíaca direita (no lado inferior direito do abdómen) mais fixa e que vai aumentando com o tempo. Pode também apresentar náuseas, vómitos e perda de apetite. Nos casos mais evoluídos pode aparecer febre. Quando o apêndice está numa localização posterior (retroperitoneal) pode existir uma fase inicial quase assintomática e só apresentar sintomas numa fase de apendicite mais evoluída.
Os sintomas da apendicite confundem-se com os de outras doenças?
Há várias doenças que podem apresentar sintomas similares aos da apendicite aguda.
Doenças intestinais
- Gastroenterite aguda;
- Doenças inflamatórias intestinais;
- Síndrome do cólon irritável, etc.
Doenças urológicas
- Infeção urinária;
- Cólica renal, etc.
Doenças ginecológicas
- Doença pélvica inflamatória;
- Rutura de um quisto ovárico;
- Endometriose;
- Gravidez ectópica; etc.
Diagnóstico
O diagnóstico é fundamentalmente clínico, ou seja, os sintomas que o doente apresenta, juntamente com a exploração clínica, irão dar o diagnóstico de apendicite. As análises podem dar informação da existência de um processo inflamatório. No entanto, hoje podemos dispor de métodos de diagnóstico por imagem, nomeadamente ecografia e TAC (Tomografia Axial Computorizada), que permitem, quer confirmar a inflamação do apêndice, quer fazer diagnóstico diferencial com outras patologias que podem apresentar uma sintomatologia similar. Este diagnóstico diferencial é mais importante nas mulheres porque existem mais patologias do foro ginecológico que podem dar sintomas idênticos.
A cirurgia é o único tratamento que existe?
A cirurgia é o tratamento de eleição porque resolve de uma forma definitiva o processo de apendicite, com a remoção do apêndice, e permite tratar a acumulação de pus no peritoneu (membrana serosa que cobre as paredes do abdómen e dos órgãos do sistema digestivo), nos casos em que já existe peritonite (inflamação do peritoneu). Juntamente com a cirurgia, trata-se com antibióticos que se prolongarão no tempo dependendo da evolução da infeção.
Em alguns casos específicos de doentes de alto risco cirúrgico pode tratar-se com antibióticos e drenagem percutânea (através da pele), se for necessário. Numa fase posterior é aconselhável realizar a apendicectomia pelo maior risco de vir a apresentar apendicite aguda.
Atualmente a apendicectomia pode ser realizada por laparoscopia. Esta técnica permite uma menor agressão cirúrgica com uma mais rápida recuperação e uma melhor exposição do peritoneu, podendo ser feita uma melhor limpeza nos casos de peritonite.
Há diferenças no caso das crianças?
A idade mais frequente de apresentação da apendicite é a adolescência, entre os 10 e 20 anos. A apendicite não é muito frequente em crianças mais pequenas, mas quando se verifica o tratamento é o mesmo.
Como tratar a apendicite crónica
A apendicite crónica é uma entidade controversa para muitos médicos, mas vários estudos demonstraram que existe, ainda que seja pouco frequente. A causa é uma oclusão transitória ou parcial do apêndice que provoca uma dor, mas que não desenvolve a sobreinfeção bacteriana que desencadearia a apendicite aguda.
É importante fazer o diagnóstico da causa da oclusão que pode incluir fecalito, tumores, adenopatias, corpos estranhos e bridas. Nos casos de suspeita de afetação do apêndice por este tipo de patologia o tratamento é a apendicectomia, porque a oclusão parcial ou temporária do apêndice pode evoluir para uma oclusão definitiva e uma apendicite aguda.