Adolescentes em risco de Doença Mental: como identificar os sinais
Identificar jovens em risco: o normal e o patológico na Adolescência
A diferenciação entre o normal e o patológico nos adolescentes é, por vezes, difícil devido ao fato de estarem envolvidos num processo de desenvolvimento que, por definição, acarreta modificações dependentes da idade. O conceito normal varia muito com a educação, a cultura, as normas familiares e a religião.
Uma vez que a adolescência cai entre a infância e a idade adulta, não é surpreendente que muitas das perturbações psiquiátricas da adolescência sejam um continuum de perturbações psiquiátricas da infância ou manifestações precoces de perturbações do adulto.
São considerados sintomas normais aqueles que surgem associados ao desenvolvimento psicológico da criança, tendo como características: são transitórios, pouco intensos, restritos a uma área da vida do adolescente, sem repercussão sobre o desenvolvimento.
São considerados sintomas patológicos: sintomas intensos e frequentes, persistem ao longo do desenvolvimento, causam grave restrição em diferentes áreas da vida do adolescente, com repercussão no desenvolvimento psicológico normal, desadequados em relação à idade (por exemplo, ansiedade de separação dos pais no adolescente), associação de múltiplos sintomas.
Quais os sinais de alerta a que os pais devem estar atentos?
• Desinteresse por atividades que apreciava anteriormente
• Alterações do sono ou apetite (em falta ou em demasia)
• Andar quase sempre irritado e agressivo
• Isolamento e não conviver com os amigos
• Abuso de substâncias psicoativas (álcool, tabaco, cannabis,…)
• Pessimismo
• Dificuldade em projetar-se no futuro
• Pensar ou tentar-se auto-agredir ou suicidar
Muitas vezes no adolescente não encontramos um humor deprimido, típico da depressão da idade adulta. Encontramos, geralmente um humor irritável, o que pode levar alguns pais a não suspeitarem de uma perturbação depressiva.
Que adolescentes estão mais em risco?
• Comportamentos disruptivos (como episódios de agressividade ou fuga de casa)
• História de consumo de substâncias psicoativas
• Antecedentes de abuso (físico, sexual, psicológico)
• Vítimas de bullying
• Exposição a violência, suicídio ou autolesão de outros
É fundamental estar atento a estes grupos de risco e assim que se identificar fatores de risco referenciar o adolescente às estruturas adequadas (médico de família, pediatra) e em caso de apresentarem já sinais de alerta referenciar ao Pedopsiquiatra.
Quais as estratégias para apoiar jovens em risco?
• Formação de porteiros sociais (gatekeepers)
Técnicos de saúde, professores ou auxiliares escolares, sacerdotes (ou mesmo alguns pais) treinados para reconhecerem os sinais de alerta, questionar, estimular a pedir ajuda, referenciar e preparar o adolescente para lidar com situações de crise;
• Protocolos de rastreio
Podem ser implementados em escolas para identificação de adolescentes em risco ou com sinais de alerta.
• Formação de médicos de família
Assim como de médicos que trabalhem em serviço de urgência, para identificação de casos de jovens em risco.
Como abordar o problema?
Assim que for identificado, o adolescente deve ser imediatamente encaminhado para um profissional de saúde. Compreender o problema é uma tarefa complexa que requer um enquadramento psicológico, psicopatológico, emocional e social que deve ser realizado por um técnico especializado e com experiência em Psiquiatria da Infância e da Adolescência.
Quais os tratamentos disponíveis?
O tratamento destes jovens em risco requer habitualmente intervenção psicológica e psicofarmacológica.
• A intervenção psicológica envolve, entre outras, Terapia Cognitivo Comportamental que revela eficácia na redução dos sintomas (depressivos, ansiosos,…); Terapia Familiar, focada na melhoria da comunicação e na resolução de problemas familiares.
• A nível farmacológico: alguns adolescentes podem desenvolver o que pode ser chamado “identidade passiva” onde eles se vêm dominados pela medicação. Muitas vezes referem que “O meu humor e sentimentos são meramente função da medicação que tomo”. É função do terapeuta reforçar ao adolescente que a medicação permite-lhe tornar-se na personalidade mais sã e que essa personalidade não é uma criação artificial da medicação, mas é sim a sua própria personalidade, que não é impedida por alterações do humor e ansiedade. Dois princípios muito importantes a ter em conta quando se medica um adolescente é só quando necessário e menos é melhor. Há vários psicofármacos usados na adolescência com resultados cientificamente comprovados (antidepressivos para sintomas de ansiedade e depressão como a sertralina e fluoxetina, antipsicóticos para controlar a agressividade e impulsividade, para perturbação bipolar, para quadros psicóticos).
Estar atento e agir o mais rápido possível pode determinar o sucesso do tratamento.