Baby Blues e Depressão pós-parto
Apesar de sentimentos de tristeza, melancolia ou até mesmo luto após o nascimento de um bebé não serem novidade, foi apenas recentemente que este tema deixou de ser tabu e passou a ser amplamente reconhecido e estudado como uma questão de saúde mental.
Atualmente, já existe evidência científica que destaca a importância do bem-estar geral da mãe, incluindo o psicológico, para a saúde e o desenvolvimento do bebé. Este facto tem contribuído para a crescente abertura do debate em torno desta temática.
A saúde mental materna em Portugal e no Mundo
Estima-se que, mundialmente, 10% das mulheres grávidas e 13% das que estão a passar por um processo de pós-parto, experienciam algum problema de saúde mental, principalmente depressão. Nos países desenvolvidos, este número é ainda superior, com uma incidência a rondar os 15% e os 19,8%.
A Organização Mundial da Saúde, reconhece estas questões como um grande desafio de saúde pública. Em Portugal, a realidade não é diferente da dos restantes países ocidentais, com uma incidência de depressão pós-parto entre 10% e 15%.
Baby Blues
A designação “Baby Blues” é utilizada para caracterizar a fase imediatamente após o nascimento em que a mãe pode sentir tristeza ou melancolia.
Nas primeiras semanas após a chegada do hospital, é comum surgir uma ambiguidade de sentimentos em relação à nova realidade. A mãe pode sentir-se triste sem uma razão aparente que justifique esse estado. Esta instabilidade emocional está amplamente ligada aos desafios deste período de adaptação, que é bastante stressante, como o estabelecimento de novas rotinas, a adaptação ao bebé, as várias mudanças nas dinâmicas do casal, a privação de sono e as alterações hormonais.
Estas emoções afetam cerca de 50% a 75% das mulheres e podem ser arrebatadoras e frustrantes, muitas vezes acompanhadas por um certo grau de culpa e uma pressão pessoal e social para demonstrar felicidade. Alguns dos sintomas mais comuns dos Baby Blues incluem:
- Alterações de humor;
- Episódios de choro;
- Ansiedade;
- Irritabilidade;
- Tristeza;
- Dificuldade de concentração;
- Dificuldade em dormir;
- Perturbação do apetite.
Apesar da angústia e desconforto que estes sentimentos possam provocar, esta fase geralmente dura apenas algumas semanas e, na maioria dos casos, é superada sem a necessidade de ajuda psicológica.
Depressão pós-parto: o que é e quais os sintomas
Quando existe um quadro de sintomas de Baby Blues que se prolonga após as primeiras semanas, com um agravamento que impeça a pessoa de aproveitar o período após o nascimento de bebé, estamos perante uma situação de depressão pós-parto (DPP), uma doença mental caracterizada por sintomas depressivos prolongados. Embora seja mais comum nas mães, a DPP também pode afetar os parceiros ou até mesmo pais adotivos.
Alguns dos sintomas incluem:
- Humor deprimido;
- Dificuldade em criar laços com o bebé;
- Insónia ou hipersónia;
- Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas;
- Cansaço extremo e falta de energia;
- Irritabilidade e raiva;
- Vergonha, culpa e/ou inadequação;
- Ansiedade e ataques de pânico;
- Pensamentos auto lesivos e de magoar o bebé;
- Medo constante sobre o bem-estar da criança;
- Distanciamento emocional, alheamento e falta de resposta afetiva;
- Falta de concentração;
- Pensamentos recorrentes sobre morte ou suicídio.
Normalmente, esses sintomas permanecem até ao primeiro ano de vida do bebé, ainda que isso não signifique que, após este período, a pessoa fique “curada”. Este estado depressivo pode persistir e deixar de estar associado apenas às questões pré e pós-natais.
Quando os sintomas são ainda mais severos, podemos estar perante um caso de psicose pós-parto, uma forma rara e extrema. Nesta condição, a sintomatologia surge rapidamente após o nascimento e, além dos sintomas já descritos, inclui: agitação extrema, confusão, paranóia, alucinações, hiperatividade ou comportamentos maníacos, obsessivos e violentos.
Fatores de risco e prevenção
Todas as mulheres podem vir a vivenciar desafios de saúde mental durante a gravidez e no pós-parto, e, embora a origem exata seja desconhecida, como acontece com muitas doenças mentais, existe um conjunto de fatores que põe em risco o desenvolvimento de depressão pós-parto:
- Alterações hormonais e outros fatores biológicos;
- Historial pessoal ou familiar de problemas de saúde mental;
- Gravidez não desejada;
- Problemas de saúde física;
- Parto traumatizante ou dificuldade na amamentação;
- História de abuso físico ou sexual;
- Falta de apoio familiar;
- Conflitos com os parceiros;
- Dificuldades durante a gravidez;
- Maternidade jovem;
- Bebés que nascem com problemas de saúde ou necessidades especiais e que podem não ser identificadas durante a gravidez;
- Dificuldades socioeconómicas.
Reconhecidos os fatores que podem contribuir para este quadro depressivo, existem mecanismos que, apesar de não evitarem a DPP, podem ajudar a prevenir ou atenuar os sintomas:
Antes da gravidez:
- No caso de historial pessoal e familiar de doenças mentais, consultar o seu médico quando está a pensar engravidar;
Durante a gravidez e no pós-parto:
- Gerir as expectativas em relação a si, ao seu bebé e à relação entre ambos;
- Limitar o número de visitas e garantir um ambiente relaxante e tranquilo nos primeiros dias após o regresso a casa;
- Pedir ajuda sempre que possível;
- Garantir o auto-cuidado;
- Vigiar o surgimento de possíveis sintomas e realizar rastreios periódicos de saúde mental; no caso de haver indícios, consultar profissionais de saúde mental.
O que fazer para ajudar alguém com depressão pós-parto?
Ter alguém próximo a passar por uma situação de depressão pós-parto pode ser difícil e, para o outro progenitor, emocionalmente desgastante. Para ajudar, é essencial estar atento e reconhecer os sinais de alarme. Uma vez identificados esses sinais, deve-se incentivar a pessoa a procurar ajuda especializada.
Existem, no entanto, pequenas ações dos pais, companheiros ou companheiras, que poderão ajudar a aliviar os sintomas, tais como:
- Ouvir a pessoa e prestar-lhe apoio sem julgamentos;
- Informar-se sobre os desafios da amamentação;
- Ajudar no dia-a-dia através de atos de serviço, como cozinhar, arrumar ou limpar;
- Garantir que a mãe continua a cuidar de si e a atender às suas necessidades (alimentação, higiene e atividades que lhe dão prazer);
- Cuidar do bebé para que possa descansar.
Quando procurar ajuda profissional?
A depressão pós-parto tem um impacto negativo não apenas na saúde mental da mãe, mas também na sua relação afetiva com o bebé e restante família nuclear. A incapacidade de cuidar da criança, que muitas vezes surge como consequência deste quadro psicológico, pode afetar o desenvolvimento do bebé. Por isso, é fundamental tratar a DPP o mais cedo possível.
Assim que surgir a sensação de que algo não está certo, é crucial monitorizar a evolução dos sintomas depressivos e da instabilidade emocional. Com o apoio profissional adequado, quase todas as pessoas que sofrem de depressão pós-parto conseguem ultrapassar os seus efeitos.
Quanto mais cedo for procurada ajuda, menor será o impacto da doença. Assim, caso esteja grávida ou no período do pós-parto, ou conheça alguém nesta situação, é essencial estar atento aos sintomas e fatores de risco.
A Saúde Mental é uma prioridade para a Lusíadas Saúde, que conta com o Hospital Lusíadas Monsanto, uma unidade especializada na área.
Marque já uma avaliação clínica e ajude a garantir uma gravidez e um pós-parto mais saudável para si ou para alguém próximo.
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Revisão Científica
Dra. Ana Peixinho
Coordenador da Unidade de Psicologia , Psiquiatria , Neuropsicologia