4 min

A importância da saúde mental dos adolescentes

Colaboração
A adolescência é uma espécie de segundo nascimento, uma época em que o adolescente já não é uma criança nem ainda é um adulto, mas partilha de alguns dos desafios, privilégios e expetativas de ambas as épocas.

A adolescência era tradicionalmente vista como o período de transição entre a infância e a idade adulta, mas atualmente é mais considerado um período de múltiplas transições. Este período de transições, uma espécie de segundo nascimento, é uma época em que o adolescente já não é uma criança nem ainda é um adulto, mas partilha de alguns dos desafios, privilégios e expetativas de ambas as épocas.

Alterações emocionais e comportamentais na adolescência

A puberdade é vista como o início da adolescência, e cada vez mais esta é precoce. Apesar de alguns aspetos da adolescência ocorrerem mais precocemente atualmente, o final da adolescência é cada vez mais tardio.

A adolescência é o período por excelência da luta pela individuação e autonomia, sendo impossível ter uma plena compreensão do desenvolvimento do adolescente separado dos seus contextos biológico, familiar, comunitário, cultural e histórico.

As alterações emocionais e comportamentais na adolescência e as perturbações mentais que ocorrem nesta fase evolutiva são, pela sua frequência, impacto social e dificuldade de tratamento, um problema importante para os Serviços de Saúde Mental. É portanto essencial uma política de prevenção e informação desde a infância de forma a evitar algumas condições que levam à elevada existência de psicopatologia nesta faixa etária.

O que significa “Adolescência”?

A palavra “adolescência” deriva do latim adolescere (crescer). A palavra “adulto” deriva do mesmo verbo (adultus, ter crescido). Sendo assim, adolescência é o período de crescer e tornar-se adulto, é um processo de desenvolvimento.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) adolescente corresponde a um jovem com idade compreendida entre os 10 e 19 anos.

Epidemiologia das perturbações psiquiátricas na adolescência

Em todo o mundo, estima-se que 10-20% dos adolescentes têm doença mental, embora alguns destes não sejam corretamente diagnosticados nem tratados, assinala a Organização Mundial da Saúde, sendo que metade das doenças mentais surge aos 14 anos. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria da Infância e da Adolescência (AACAP) uma em cada cinco crianças apresenta evidência de problemas mentais e esta proporção tende a aumentar. De entre as crianças que apresentam perturbações psiquiátricas apenas 1/5 recebe tratamento apropriado.

Quais os principais motivos de ida à consulta de Pedopsiquiatria?

Geralmente chegam à consulta por iniciativa do médico de família ou pediatra, dos cuidadores ou da escola. Raramente é o próprio adolescente que pede ajuda, embora a proporção de adolescentes que tem iniciativa desse pedido esteja a aumentar. As principais razões são:
• Problemas do comportamento
• Comportamentos autolesivos (com ou sem ideias de morte)
• Ideias de suicídio
• Problemas de afetos (fundamentalmente sintomas depressivos)
• Ansiedade
• Problemas de manutenção da atenção
• Problemas de aprendizagem

Os principais diagnósticos realizados na faixa etária da adolescência são perturbações do comportamento, perturbações depressivas e perturbações de ansiedade. Outras problemáticas que têm o seu pico na adolescência são as perturbações relacionadas com o uso de substâncias, esquizofrenia e outras perturbações psicóticas e perturbações do comportamento alimentar (anorexia nervosa e bulimia nervosa).

Prevenção de doenças mentais na adolescência

A prevenção começa com a consciencialização da existência da doença e com a necessidade de estar alerta e compreender os primeiros sinais e sintomas da doença mental. Os pais e professores assumem um papel fundamental na formação de competências dos adolescentes para que consigam lidar com os desafios do dia a dia.

É essencial um investimento governamental multissetorial (Segurança Social, Saúde e Educação) em programas abrangentes, integrados, e baseados na evidência, que consciencializem, promovam e protejam a saúde mental dos adolescentes. As intervenções que visam promover a saúde mental dos adolescentes pretendem aumentar os fatores protetores e criar alternativas para diminuir os comportamentos de risco.

A promoção da saúde mental e bem-estar ajuda os adolescentes a aumentar a resiliência, para melhor lidarem com adversidades e situações de conflito e também traz benefícios para a economia e sociedade: com adultos saudáveis a contribuir para o desenvolvimento da atividade em termos laborais, familiares, comunitários e sociais.

Exemplos de atividades de promoção e prevenção multissectoriais para adolescentes em risco de doença mental incluem:

• Intervenção psicológica individualizada, em grupo ou online
• Intervenção focada na família com treino de competências ao cuidador
• Intervenção no estabelecimento de ensino: mudanças organizacionais para um ambiente psicológico seguro, estável e positivo
• Formação em saúde mental e competências para a vida
• Formação dos funcionários na deteção e abordagem básica do risco de suicídio
• Programas de prevenção para adolescentes vulneráveis
• Intervenções comunitárias como programas de liderança entre pares
• Programas de prevenção a adolescentes vulneráveis
• Programas para prevenir e gerir os efeitos da violência sexual nos adolescentes
• Programas multissetoriais de prevenção do suicídio
• Intervenções para prevenir o abuso de álcool e de outras substâncias psicoativas
• Educação sexual para prevenir o risco de comportamentos sexuais de risco
• Programas de prevenção de violência

A prevenção na área da saúde mental deveria começar antes da conceção de uma criança, sendo essencial que, desde cedo, pais e educadores promovam ambientes de segurança e potenciem espaço para opinião da criança e promovam o espírito crítico.
 

Ler mais sobre

Saúde Mental

Este artigo foi útil?

Revisão Científica

Dra. Neide Urbano

Dra. Neide Urbano

Hospital Lusíadas Lisboa

Especialidades em foco neste artigo

Especialidades em foco neste artigo

PT