Devo tomar comprimidos para dormir?
Num estudo sobre os hábitos de sono dos portugueses, concluiu-se que 52% da população adulta raramente dorme bem. Não só a qualidade do sono, mas também a quantidade é alarmante: 75% dorme menos de 7 horas e 19% dorme menos de 6 horas por noite.
Muitos relataram dificuldade em adormecer; 44% confessam que já tomaram medicação para dormir e 12,5% fazem medicação todos os dias.
Em que consiste ter insónia?
Insónia significa dificuldade em adormecer, manter-se a dormir durante a noite ou acordar mais cedo do que desejado quando se tem oportunidade para dormir, ou até má qualidade do sono. Esta condição impõe múltiplas disfunções durante o dia, na dimensão pessoal e de saúde, familiar, social e laboral.
Os sintomas diários resultantes da insónia são fadiga, melancolia, irritabilidade e outras alterações do humor, dificuldade de concentração e mau estar e como será de esperar perda de qualidade de vida.
Estas alterações devem ocorrer pelo menos 3x/semana. Para que a insónia seja considerada crónica estas queixas devem ter mais de 3 meses de duração.
A insónia pode ser uma doença, mas também pode ser um sintoma de uma outra doença (por exemplo depressão, apneia do sono, entre outras).
Quando não existe possibilidade de dormir o tempo necessário para um adulto, por imposição laboral ou familiar, não se reconhece como insónia.
É importante clarificar também que existe alguma diversidade nos padrões de sono, sendo que as necessidades fisiológicas de sono variam de pessoa para pessoa: alguns adultos, ainda que poucos, têm menos necessidade de dormir durante a noite; outros têm um sono polifásico (não dormem só de noite), mas estas características não lhes trazem disfuncionalidade no dia a dia.
Porque é que a qualidade do sono é importante?
Como sabemos, a qualidade do sono é extremamente importante, pois é uma necessidade fisiológica fundamental para a manutenção da nossa saúde. Enquanto estamos a dormir, o sono é responsável por:
- Descanso e recuperação: Permite que o corpo descanse, levando à restauração de vários tecidos, incluindo, mas não só, os tecidos musculares, e à renovação de alguns tipos de células;
- Consolidação da memória: O cérebro processa e armazena informações;
- Regulação do humor: Ajuda a manter o equilíbrio emocional, podendo auxiliar em situações como ansiedade, depressão ou impulsividade;
- Renovação do sistema imunológico: Indispensável para a saúde geral, com capacidade de ajudar o nosso organismo a defender-se de certas doenças;
- Controlo do apetite e do metabolismo: Estimula a produção de hormonas responsáveis pelo metabolismo, pelo apetite e pela escolha de alimentos feitos ao longo do dia.
O que são comprimidos para dormir?
Assim como o próprio nome indica, os "comprimidos para dormir" são fármacos que ajudam a tratar a insónia.
Existem muitos nomes e variações de comprimidos que ajudam a melhorar a qualidade do sono, alguns mais fortes que outros e com efeitos distintos. Certos comprimidos provocam sonolência, enquanto outros "silenciam" a parte do cérebro que nos mantém alerta. Nem todos induzem imediatamente o sono (como é o caso dos ansiolíticos), e por isso mesmo são utilizados de manhã.
Antes de recorrer à toma destes fármacos, é comum optar-se por soluções mais "naturais", como suplementos alimentares facilmente acessíveis e que geralmente não necessitam de receita médica. Alguns exemplos de suplementos naturais incluem melatonina, raiz de valeriana ou camomila.
No entanto, há também quem opte pela toma de certos anti-histamínicos (medicamentos para alergias), pois estes inibem a ação da histamina, substância que reforça o estado de alerta, o que pode provocar sonolência. Ainda assim importa relembrar que a sonolência é um efeito secundário de anti-histamínicos mais antigos – os mais recentes têm características que impedem este efeito secundário.
Importante: É sempre recomendado procurar um profissional de saúde antes de se automedicar.
Quais os efeitos secundários destes comprimidos? São seguros?
8 em cada 10 pessoas que tomam comprimidos para dormir experienciam algum tipo de alteração no dia seguinte, como sonolência matinal, dificuldade de concentração ou tonturas. Estes efeitos podem ter impacto negativo na capacidade da pessoa em realizar algumas tarefas diárias, como conduzir ou trabalhar.
Apesar de serem os efeitos secundários mais comuns, existem outros mais raros, tais como:
- Problemas intestinais;
- Sensação de boca seca;
- Dores de cabeça;
- Fraqueza muscular;
- Problemas digestivos, como gases, refluxo ou náuseas;
- Agravamento de roncopatia existente e da apneia do sono.
É importante considerar que um dos efeitos secundários mais preocupantes é a dependência. Quando tomamos estes comprimidos diariamente, o nosso corpo pode começar a criar habituação. Neste cenário, ao interromper a medicação abruptamente, pode haver reaparecimento das insónias e agravamento dos sintomas.
A dependência não ocorre, no entanto, com todo o tipo de fármacos hipnóticos. Por vezes o reaparecimento da insónia após a interrupção pode apenas significar que a doença não está controlada e que não está na altura de suspender a medicação.
Estes comprimidos não devem ser combinados com outros sedativos ou álcool, devido ao risco de overdose. Como todas as medicações, estes fármacos devem ser prescritos e monitorizados por médicos com diferenciação na área.
Por todas as razões mencionadas, antes de iniciar a toma de fármacos ou mesmo suplementos alimentares que ajudem a induzir ou manter o sono, é crucial consultar o seu médico assistente, pois alguns destes podem interferir com certo tipo de medicamentos e ser prejudiciais para a sua saúde.
Como saber se devo tomar comprimidos para dormir?
A falta de sono e descanso pode ter consequências negativas para a nossa saúde e dia a dia. Apesar de os comprimidos para dormir parecerem uma solução rápida e eficaz para resolver o problema, é importante considerar outras soluções previamente.
Se tem constantemente dificuldade em adormecer (mais de 30 minutos) e/ou em manter-se acordado, existem certas mudanças no estilo de vida que podem ajudar:
- Evitar grandes refeições e consumo de álcool antes de dormir;
- Reduzir o consumo diário de bebidas com cafeína, refrigerantes e chocolate, principalmente à noite;
- Praticar exercício físico regularmente, preferencialmente de manhã;
- Desligar todos os dispositivos eletrónicos 30 minutos antes de deitar, substituindo-os por atividades relaxantes, como ouvir música calma, meditar ou ler;
- Manter uma rotina de sono regular: tentar deitar-se e acordar à mesma hora, mesmo nos fins de semana.
Existe uma outra intervenção para o tratamento da insónia - a terapia cognitivo-comportamental na insónia, que pode ser tão ou mais eficaz que os medicamentos. Com a evolução da tecnologia já existem aplicações (terapia cognitivo comportamental para a insónia digital) que podem ser usadas sob recomendação e orientação médica.
Se a insónia persistir e se tornar crónica, deve procurar um profissional de saúde antes de tomar qualquer medicação, pois o primeiro passo deve passar por investigar e compreender a causa do problema. Este profissional realizará uma análise e avaliação do caso para tentar identificar a causa da insónia e, assim, tratá-la adequadamente.
Por exemplo, pode haver alguma condição médica subjacente que esteja a contribuir para a dificuldade em dormir, onde o uso de comprimidos pode ser desnecessário ou até prejudicial.
Consulta do Sono
A Consulta do Sono, como o próprio nome indica, destina-se a todos os que sentem dificuldades em dormir e que, por isso, perdem qualidade de vida (seja por insónias, síndrome das pernas inquietas, trabalho por turnos, cansaço e/ou dores de cabeça ao acordar, por exemplo).
É bastante comum os parceiros identificarem sinais de problemas com a qualidade do sono, como roncar, paragens respiratórias durante o sono, sonambulismo, pesadelos constantes, entre outros.
Com esta consulta, poderá conseguir aconselhamento e que esse inclua, ou não, a toma de comprimidos para dormir.
Nos Hospitais e Clínicas Lusíadas, pode contar com uma abordagem holística do sono, na qual são avaliadas as três características essenciais do mesmo: quantidade, qualidade e o momento correto para dormir. Esta avaliação do sono envolve uma análise multidisciplinar que inclui várias especialidades: Otorrinolaringologia, Pneumologia, Pediatria, Neurologia, Psiquiatria, Cardiologia, Medicina Dentária e Psicologia.
Os Hospitais Lusíadas dispõem de vários exames para o diagnóstico das doenças relacionadas com o sono, que podem ser realizados no domicílio (ambulatório) ou na Unidade, que utilizam a tecnologia mais avançada e contam com profissionais de excelência.
Se precisar de ajuda, deixe o seu sono em boas mãos, agendando uma Consulta do Sono, e conquiste um sono saudável e mais qualidade de vida.
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Revisão Científica
Dra. Susana Moreira
Coordenador da Unidade de Pneumologia