Os jovens e o álcool
“A adolescência é um período de profunda maturação cerebral com grande suscetibilidade ao efeito de tóxicos que reconhecidamente afetam o funcionamento dos neurónios e das sinapses, como é o caso do álcool e das drogas de abuso”, afirma o pediatra Hugo Tavares do Hospital Lusíadas Porto.
O que leva os adolescentes a beber?
“A adolescência é na sua essência um período de autodescoberta e definição da identidade de um indivíduo, o que potencia a adoção de comportamentos exploratórios e opositivos às normas e de desafio da autoridade parental”, explica o pediatra. Os adolescentes encontram nos pares o seu modelo de identificação, adotando os comportamentos do grupo.
Fruto da sua imaturidade cerebral, sobretudo das estruturas do córtex pré-frontal, na maioria dos casos não têm ainda a capacidade de perceber as potenciais consequências dos seus atos.
"Os adolescentes bebem porque sabe bem, porque os faz sentir bem e porque facilita a sua socialização e aceitabilidade pelos pares. Os adolescentes bebem porque é fácil ter acesso ao álcool, porque os media promovem imagens de felicidade associadas ao consumo de álcool e porque este faz muitas vezes parte da rotina familiar, onde frequentemente se iniciam no seu consumo", refere o médico
O que podem os pais fazer?
“Promover um diálogo aberto e franco sobre o álcool ainda antes da adolescência. O discurso não se deve apenas focar nos potenciais malefícios, mas também abordar as sensações positivas esperadas e referir outras formas de as obter sem ter que recorrer ao álcool”, esclarece Hugo Tavares.
“Aproveitar as ocasiões em que consome álcool para falar do tema e esclarecer as dúvidas dos jovens, além de abordar os efeitos de um consumo em idade precoce e, dessa forma, diminuir a probabilidade de experimentação.”
Sinais de alerta
Não há sintomas de alerta específicos para o consumo de álcool. Até porque muitas vezes este se associa a outros comportamentos de risco ou se enquadra noutros problemas comportamentais. É, no entanto, importante, estar atento a alguns sinais que sugerem algum problema, relacionado ou não com o álcool, e que apontam para a necessidade de intervenção especializada:
- Problemas académicos ou comportamentais na escola (especialmente se há uma mudança recente);
- Comportamento distante, agressividade ou isolamento marcado;
- Mudança frequente de grupo de amigos;
- Menor interesse por atividades ou aparência;
- Deteção de bebidas alcoólicas nos seus pertences ou hálito a álcool;
- Discurso arrastado ou problemas de coordenação;
- Problemas de memória ou de concentração.
Consequências do álcool
A curto prazo / de forma aguda:
- Alteração da forma como o jovem perceciona a realidade e a sua capacidade de reagir a diferentes estímulos, comprometendo o controlo da quantidade de álcool ingerida, por falta de noção dos efeitos do mesmo;
- Lentificação do discurso e descoordenação dos movimentos;
- Algum grau de desinibição, levando à adoção de comportamentos desadequados, violentos ou exibicionistas que potenciam acidentes e podem comprometer a segurança dos jovens (tentando “proezas” sem perceber o risco das mesmas, conduzindo ou deixando-se conduzir por terceiros também sob efeito de álcool);
- Outros comportamentos de risco de natureza sexual ou relacionada com outros consumos.
A longo prazo e com o consumo prolongado:
- Comprometer o normal desenvolvimento cerebral e as funções cognitivas;
- Associar-se a alterações sérias na personalidade do adolescente e jovem adulto, nomeadamente comportamentos aditivos;
- Comprometer o funcionamento do fígado e outros órgãos vitais.