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Sexualidade: a primeira vez

Colaboração
Não há uma data ou idade marcadas para o início da vida sexual. O essencial, dizem os especialistas, é que aconteça com naturalidade e sem pressões ou influências externas.

A primeira vez é um momento a dois que fica gravado na memória para sempre e, espera-se, pelas melhores razões. A descoberta da sexualidade é também uma das alturas da vida que mais preocupa os pais de adolescentes.

Como abordar a questão com os filhos sem parecer excessivamente moralista? Como alertá-los para os perigos, como as doenças sexualmente transmissíveis, que espreitam em cada esquina, ou para uma gravidez indesejada?

Dúvidas como estas atormentam os educadores mais informados e, do outro lado da barricada, aguçam a curiosidade dos adolescentes.

Sexualidade: o acesso à informação

É certo que os jovens estão hoje mais informados e têm acesso a uma variedade muito maior de fontes de informação. No entanto, isto não significa que as dúvidas não sejam as mesmas de sempre, ou que o excesso de informação tenha sobre eles o efeito contrário.

Há por exemplo, e como alerta Daniela Sobral, médica ginecologista, obstetra e especialista em reprodução medicamente assistida no Hospital Lusíadas Lisboa, “maior acesso a pornografia, o que pode gerar ideias erradas sobre a sexualidade na cabeça dos adolescentes, especialmente nos mais novos”.

Ideias erradas sobre os papéis de cada um na relação (mulheres submissas e homens dominadores, por exemplo), sexo sem contexto ou o corpo como objeto, são alguns dos perigos desta nova realidade. No entanto, “cabe aos pais prevenir um acesso massivo à pornografia, mas também esclarecer as dúvidas que possam surgir aos adolescentes, sem recriminações ou juízos de valor”, explica Daniela Sobral.

Conversa com pais e educadores é essencial

Quando tem dúvidas, Catarina de 17 anos, pergunta à mãe, com quem assegura ter uma grande confiança e uma relação muito próxima. A adolescente também conta que faz pesquisas no Google sobre estes temas, mas “na minha mãe posso sempre confiar”, salienta.

Também Madalena, com a mesma idade, afirma que “a pessoa com quem mais falo é a minha madrasta porque é com quem me sinto mais à vontade”. Já com os pais não sentem a mesma proximidade. No entanto, Madalena refere também a escola e os professores como uma fonte de informação importante e de proximidade. “Transmite pelo menos o necessário”, acrescenta Catarina sobre o papel da escola.

Daniela Sobral concorda com as duas adolescentes e lembra que atualmente nas escolas já se fala mais destes assuntos e com maior à vontade. “Muitos adolescentes falam destas coisas com maior facilidade com professores do que com os pais”, acrescenta a especialista. Apesar disso, para Daniela Sobral o papel dos pais continua a ser o mais importante na educação sexual e orientação dada aos adolescentes.

“Hoje existe uma maior descontração dos pais em falar sobre estes assuntos com os filhos. Na minha geração não era assim.” Contudo deixa um aviso: “É muito importante que os pais conversem sem impor, respeitando a individualidade e a privacidade dos filhos” e lembra ainda que há adolescentes mais fechados, que não gostam de abordar estes assuntos e que não devem ser forçados a fazê-lo.

A primeira vez vista "do outro lado"

Do lado dos pais também não é fácil percorrer este caminho, até porque, na maior parte dos casos, “no seu tempo” a informação vinha essencialmente das conversas com amigas. Maria é assessora de comunicação e, aos 43 anos, confessa que nem sempre está preparada para as dúvidas da filha de 15 anos, apesar da proximidade entre ambas. “Mas vou trabalhando isso dentro de mim para que esta relação de confiança se mantenha para a vida.”

Falam de tudo e Luísa, já no 10.º ano, questiona-a sobre temas como a proteção, as doenças, o impacto de uma gravidez ou o aborto. “Não lhe escapa nada. E eu respondo o mais abertamente possível, não tapando nunca a realidade”, reforça. Lucília, 52 anos, também não tem problemas em abordar o assunto com a filha mais nova, Isabel, de 13. Para esta tradutora de Queluz, não há necessidade de discursos moralistas.

“Pela parte dela não parece estar ainda na disposição de se abrir comigo quanto às suas eventuais ansiedades no que toca ao tema. Normalmente sou eu que puxo a conversa. Com a mais velha (tem hoje 30 anos) foi a mesma coisa.” No que se refere aos principais conselhos que dá, Lucília fala, sobretudo, sobre os cuidados a ter numa relação sexual. “Digo-lhe também que a sexualidade está ligada ao prazer, mas também à responsabilidade. Não é completamente inócua, pode ter efeitos secundários.”

Já Maria orienta os seus conselhos para que a filha tenha a certeza de que aquela pessoa lhe é especial e que se proteja sempre com preservativo, independentemente de estar a tomar qualquer tipo de contracetivo. A promiscuidade é uma das coisas que mais preocupa Lucília enquanto mãe, a par com as relações sexuais não protegidas, quer no que respeita a doenças quer a gravidez.

Por isso tenta passar a mensagem com algum sentido de humor: “Quando a mais velha fez 16 anos ofereci-lhe um embrulho com um preservativo lá dentro. Um só. Era simbólico, de duas formas: simbolizava a minha autorização/abertura para que ela desse início à vivência da sua sexualidade, e também a chamada de atenção para os cuidados a ter durante essa vivência. Corou e disse: Ó mãe...”

Um momento bonito para mais tarde recordar

“Os adolescentes devem encarar a sua primeira vez como um momento bonito, fruto de uma decisão tomada com maturidade e em consciência, sem precipitações ou pressões”, refere Daniela Sobral. É fundamental “que mais tarde não se arrependam de uma decisão tomada por pressão de um namorado, amigos ou porque o fizeram sob a influência de álcool ou drogas”.

No que se refere ao momento ideal, Daniela Sobral defende que não há uma idade certa ou errada para iniciar a vivência sexual. “Tudo depende da maturidade e do desenvolvimento de cada adolescente, rapaz ou rapariga.” A especialista garante que é tão natural aos 14 anos como aos 25, e que ninguém deve ter problemas com isso. A ginecologista deixa ainda algumas recomendações, especialmente às meninas.

“Em primeiro lugar devem ir a uma consulta de ginecologia, preferencialmente por volta dos 13 anos.” Além disso, a médica aconselha a que as adolescentes tomem uma pílula, mesmo que o início da atividade sexual ainda esteja numa esfera longínqua. “A pílula ajuda a evitar dores menstruais e a regular os ciclos mais irregulares, pelo que é sempre uma mais-valia”, explica. Por fim, e porque nunca é de mais lembrar, “esta é uma decisão pessoal e que não deve de forma alguma ser influenciada”. Só assim, a primeira vez poderá ficar para sempre na memória como o tal momento a dois que nunca se esquece.

Leia na revista Lusíadas nº4 - Inverno 2015 as cinco preocupações principais sobre sexualidade, partilhadas por pais e filhos.

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