Bronquiolite: o que é e qual o tratamento
O que é
“A bronquiolite é uma infeção respiratória viral da criança pequena (menor de 2 anos), que atinge sobretudo a parte terminal da árvore brônquica”, informa Sérgio Neves, pediatra no Hospital Lusíadas Lisboa e no Hospital Lusíadas Amadora. É por afetar este conjunto de estruturas que permitem as trocas de ar (bronquíolos e os alvéolos pulmonares) que a doença torna a respiração audível, sibilante, e provoca dificuldade respiratória.
“Geralmente mais frequente e mais grave nos primeiros seis meses de vida, tende a ocorrer no outono e inverno”, e pode ser recorrente, acrescenta o especialista. “Após um primeiro episódio, podem surgir outros, de gravidade diversa”.
Dos 0 aos 2 anos
“A criança pequena tem anatomicamente um pescoço mais curto, uma língua maior, e uma árvore brônquica mais pequena e estreita, que facilmente obstrui com a inflamação desencadeada pelos agentes infeciosos”, explica o pediatra. Os primeiros meses são os mais críticos para contrair bronquiolite. Os bebés respiram preferencialmente pelo nariz e “a simples obstrução nasal com secreções pode desencadear dificuldade respiratória e/ou alimentar”, diz Sérgio Neves.
Além disso, o sistema imunitário dos bebés é também mais frágil, uma vez que “a produção de algumas imunoglobulinas nos primeiros seis meses é inferior à de uma criança mais velha”, desenvolve, acrescentando que a criança estará mais protegida se fizer aleitamento materno.
Fatores de risco
A bronquiolite pode ser provocada por vírus como influenza, adenovírus, rinovírus, entre outros, sendo que, em 75% dos casos, o responsável é o vírus sincicial respiratório.
A gravidade da doença está sobretudo relacionada com:
- A idade da criança (quanto mais jovem, mais grave é a doença);
- A presença de comorbilidades e doenças de base (prematuridade, doenças cardíacas, doenças neurológicas, imunodeficiências, defeitos congénitos da via aérea, entre outras). Nestes casos a hospitalização é geralmente necessária, e a identificação do agente infecioso poderá ser relevante.
Sintomas
“A bronquiolite começa com sintomas de uma nasofaringite (obstrução nasal, corrimento nasal, acessos de tosse, com ou sem febre), que se intensificam nas horas ou dias seguintes.
Surge depois o esforço em respirar: a barriga do bebé oscila mais rapidamente e, em situações mais graves, surgem depressões entre as costelas e na base do pescoço, as conhecidas ‘covinhas’, e podem ouvir-se os ‘gatinhos ou silvos (pieira)’”, explica Sérgio Neves.
O especialista alerta ainda para o facto de, devido à obstrução nasal e ao esforço respiratório, as crianças poderem apresentar dificuldades alimentares (em pequenos lactentes podem também surgir apneia e engasgamento). Por regra, a bronquiolite resolve-se em média em sete dias, mas a tosse pode persistir nos dias ou semanas seguintes.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico e a maioria dos casos de ambulatório são ultrapassados, sem que seja necessário pedir exames complementares, nomeadamente para identificar o tipo de vírus em causa. A avaliação da saturação de oxigénio ajuda a determinar a gravidade da doença e a necessidade de internamento.
“Os exames complementares estão reservados para diagnóstico diferencial, avaliação de complicações ou de comorbilidades. Nesse caso poderão ser necessárias análises sanguíneas, radiografia simples de tórax ou outros exames, a definir caso a caso”, afirma o coordenador da Unidade de Pediatria do Hospital Lusíadas Amadora.
Prevenção
A profilaxia medicamentosa para evitar infeção com o vírus sincicial respiratório (VSR) — que se faz recorrendo a um anticorpo monoclonal chamado palivizumab — está apenas indicada para crianças de risco (ex: prematuros). Nos restantes casos, o essencial é prevenir o contágio, na maior parte das vezes facilitado por pais, irmãos ou cuidadores. Assim, “perante sintomas respiratórios, mesmo que ligeiros, é recomendável a utilização de máscara e lavagem das mãos antes de lidar com o lactente”.
Tratamento
A bronquiolite é resolvida quase sempre em ambulatório — a taxa de internamento é de 3% a 5%.“O tratamento é de suporte: higiene nasal, alívio da febre, fracionamento alimentar ou suporte alimentar por sonda nasogástrica ou soroterapia endovenosa e oxigenoterapia quando necessária”, elenca Sérgio Neves.
“Os broncodilatadores e corticoides não estão recomendados para todas as crianças e devem ser utilizados em função da avaliação médica”, tendo em conta “a história pessoal e familiar de atopia [predisposição familiar genética para alergia], a resposta terapêutica a uma primeira utilização, a gravidade da doença e episódios prévios de dificuldade respiratória”, sublinha o especialista. “Quando são prescritos broncodilatadores, devem ser utilizadas câmaras expansoras em vez dos aerossóis (nebulizações)” e deve ser ainda “reforçada a evicção tabágica dos conviventes”, acrescenta. O clínico desaconselha medicações para a tosse ou antibióticos, bem como “inalações caseiras de ervas”.
A fisioterapia respiratória não está indicada para quadros ligeiros/moderados e crianças saudáveis. A utilização de aerossóis e medicação inalatória é frequente, “mas no Hospital Lusíadas Amadora temos desenvolvido medidas para melhores cuidados, como a educação dos pais sobre a doença e a proximidade e acessibilidade dos cuidados de saúde para situações mais agudas ou de agravamento”, acrescenta Sérgio Neves.
Exemplos disso são a consulta de follow-up feita após um episódio de urgência, o contacto telefónico em 24-48h após a alta da urgência e a articulação entre a urgência e o os pediatras do ambulatório.
Para os pais: por que estão desaconselhados os aerossóis?
O recurso a aerossóis já foi norma e ainda hoje é por vezes sugerido na prática clínica. No entanto, “os aerossóis, mesmo que usados apenas com soro (sem medicação), não estão indicados, podendo mesmo levar a um agravamento clínico da bronquiolite nos pequenos lactentes”, alerta Sérgio Neves.
“Além disso, também não têm indicação para a resolução da obstrução nasal — neste caso deve ser feita a lavagem nasal com ou sem aspiração nasal superficial”, acrescenta o coordenador da Unidade de Pediatria do Hospital Lusíadas Amadora. A câmara expansora deve ser o dispositivo de eleição para terapêutica inalatória de crianças em idade pré-escolar: “É rápida, eficaz, não necessita de fonte energética, e permite a utilização de medicação de ‘crise’ e de ‘manutenção’”, justifica o especialista.