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A Construção do Paladar: o que influencia as preferências alimentares do bebé?

Colaboração
A alimentação desempenha um papel crucial na nossa saúde e bem-estar, e as decisões que tomamos sobre o que comemos são fortemente influenciadas pelo que aprendemos e experimentamos durante a infância.

É durante os primeiros anos de vida que as nossas preferências alimentares começam a ganhar forma e que se estabelecem as bases dos nossos hábitos alimentares. Estes comportamentos são moldados por uma complexa interação de fatores, que vão desde as predisposições inatas até às experiências vividas no meio familiar e social.

Preferências Alimentares Inatas

Desde o nascimento, os bebés demonstram preferências inatas por determinados sabores, como o doce e o salgado, e uma aversão natural ao sabor amargo. Estas predisposições, presentes desde os primeiros momentos de vida, exercem uma influência significativa na forma como os bebés escolhem os alimentos.

Influência da Alimentação Materna

A formação das preferências alimentares de um indivíduo começa muito antes do nascimento, ainda no útero materno. Durante a gestação, o feto é exposto a uma variedade de sabores e aromas através do líquido amniótico, que varia de acordo com a dieta da mãe. Esta exposição precoce desempenha um papel crucial no desenvolvimento do paladar fetal e pode influenciar as escolhas alimentares do bebé após o nascimento e ao longo da vida.

O desenvolvimento das papilas gustativas, responsáveis pela deteção de sabores, ocorre por volta da 8.ª semana de gestação, e a capacidade de detetar sabores surge por volta da 14.ª semana. Paralelamente, os orifícios nasais fetais abrem-se, permitindo que o feto tenha contacto com os aromas presentes no líquido amniótico, a partir da 24.ª semana. Assim, acredita-se que a exposição repetida a determinados sabores e aromas pode levar à familiarização e aceitação de certos alimentos no futuro.

Neste sentido, estudos têm demonstrado que bebés cujas mães têm uma alimentação saudável e variada durante a gravidez têm maior probabilidade de aceitar alimentos ricos nutricionalmente, como hortofrutícolas, em comparação com bebés cujas mães tiveram uma alimentação menos variada. Ou seja, a exposição a sabores diversificados no útero pode ajudar a prevenir a seletividade alimentar na infância e promover a formação de hábitos alimentares saudáveis a longo prazo.

Além da gravidez, a alimentação materna também desempenha um papel importante na exposição a novos sabores após o nascimento, através da amamentação. O leite materno não só fornece nutrientes essenciais, como varia o seu sabor de acordo com a dieta da mãe, continuando o processo de familiarização de sabores iniciado durante a gravidez. Este não ocorre quando a alimentação é assegurada através de fórmulas infantis.

Introdução Alimentar, uma Janela de Oportunidade

A introdução alimentar é um marco crucial no desenvolvimento infantil, representando um período de aprendizagem e exploração sensorial. Esta fase, que se inicia por volta dos 6 meses de idade, marca a transição do aleitamento materno exclusivo ou da alimentação por fórmula para a alimentação complementar, diversificando os sabores e texturas a que o bebé é exposto.

A ordem de introdução dos alimentos pode influenciar a aceitação dos mesmos. Os hortícolas, em particular os de folha verde, devem ser introduzidos antes da fruta, uma vez que a preferência inata pelo sabor doce pode dificultar a aceitação do amargo, presente na maioria dos hortícolas. Além disso, a exposição repetida a um novo alimento é fundamental para a sua aceitação. Embora não haja um consenso sobre o número ideal de exposições, recomenda-se que este varie entre 6 e 15 vezes.

Os primeiros anos de vida, especialmente até aos 2 anos de idade, constituem uma janela de oportunidade para a formação de hábitos alimentares saudáveis. Nesta fase, as crianças estão mais recetivas a experimentar novos alimentos, facilitando a aceitação de sabores diferentes e prevenindo a neofobia e a aversão a alimentos novos, que se torna mais comum a partir desta idade.

Preferências Alimentares: Uma Interação Complexa de Fatores

As preferências alimentares são influenciadas por uma variedade de fatores interligados, nomeadamente:
•    Fatores biológicos: predisposições genéticas e fisiológicas;
•    Alimentação materna durante a gravidez e a amamentação;
•    Práticas parentais: estratégias utilizadas pelos pais durante as refeições;
•    Políticas escolares: oferta alimentar nas escolas e educação nutricional;
•    Determinantes psicológicos: traços de personalidade, ansiedade, entre outros;
•    Determinantes sociais, económicos e culturais: acesso aos alimentos, hábitos alimentares da família e da comunidade, crenças culturais relacionadas com a alimentação, entre outros.
 

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Revisão Científica

Dra. Inês Chambel

Dra. Inês Chambel

Hospital Lusíadas Amadora
PT