Diagnóstico e correção do astigmatismo
O que é
O astigmatismo é um problema ocular causado por irregularidades na curvatura da córnea. Essas deformações “provocam a dispersão da luz, tornando as imagens dos objetos, tanto próximos como longínquos, desfocadas e deformadas”, explica Ana Martins, oftalmologista da Clínica Lusíadas Faro.
Causas
Na maioria dos casos, o astigmatismo corneal é congénito e vai sofrendo alterações ao longo do tempo. “Pode estar associado a outros erros refrativos, como miopia ou hipermetropia, e também pode aparecer ou modificar-se devido a um traumatismo ou outras patologias corneanas”, refere a especialista. O astigmatismo não é condicionado por fatores como ler com pouca luz ou pela proximidade aos ecrãs. Estes cuidados fazem especial sentido quando o astigmatismo está associado à miopia, esse sim um erro refrativo em grande medida relacionado com causas ambientais. “A prevalência da miopia tem vindo a aumentar com um maior uso da visão de perto, pelos maiores níveis de escolaridade e o crescente uso de aparelhos digitais”, sublinha Ana Martins, acrescentando que dedicar mais tempo a atividades ao ar livre é um hábito que pode ajudar a evitar a progressão da miopia.
Prevalência
Estima-se que mais de metade da população portuguesa necessite de correção ótica, sendo o astigmatismo o segundo defeito refrativo mais frequente. Miopia: 47% Astigmatismo: 31,4% Hipermetropia: 4,7% No seu conjunto, os erros refrativos são mais frequentes nos adultos jovens, entre 20 e 39 anos. No astigmatismo, a distribuição da sua prevalência varia entre as faixas etárias, sendo o problema mais frequente nas crianças e nos adultos jovens.*
Sinais de alerta
O astigmatismo altera a visão a qualquer distância e pode provocar astenopia ou fadiga ocular, pelo esforço muscular excessivo feito num longo período de tempo, com manifestações como dor à volta dos olhos, ardor e prurido nas pálpebras, dores de cabeça, etc. “A necessidade de semicerrar os olhos e modificar a posição da cabeça para ver as imagens com maior nitidez pode indiciar este tipo de defeito refrativo”, diz ainda Ana Martins, em forma de alerta para os pais.
Diagnóstico
“Na maior parte dos casos, o astigmatismo está presente desde o nascimento e deve ser detetado o quanto antes — e daí a importância dos rastreios visuais infantis, para evitar futuras ambliopias”, ou seja, a diminuição da acuidade visual, uni ou bilateral, mesmo sem anomalia estrutural do olho ou olhos afetado(s). Nas crianças, “o uso dos óculos é fundamental para obter uma boa qualidade de visão e consequentemente, facilitar um correto desenvolvimento funcional”, afirma Ana Martins. “Mais tarde, podem também optar pelo uso de lentes de contacto que tornam a superfície corneana mais homogénea proporcionando, em alguns casos, um campo visual mais amplo e uma maior comodidade”, acrescenta.
Tratamento
“O uso de óculos com lentes cilíndricas ou de lentes de contacto tóricas visa corrigir o defeito refrativo alcançando a melhor acuidade visual possível, mas o astigmatismo não deixará de existir”, começa por alertar a especialista. O tratamento cirúrgico é a única forma de definitivamente corrigir o problema. “A cirurgia refrativa corneana permite, recorrendo ao uso de lasers e de segmentos intracorneanos, modificar de maneira permanente a forma da córnea nos adultos com graduações estáveis”, explica Ana Martins. Nos casos de astigmatismo secundário, por exemplo a opacificação do cristalino, este deve ser compensado através do uso de lentes tóricas e diferentes incisões corneanas, durante a cirurgia de catarata. Quando se deve a outras patologias como o pterígio, procedendo à sua excisão cirúrgica, corrige-se o astigmatismo provocado. “O tratamento é sempre individualizado e nem todos os pacientes com astigmatismo miópico ou hipermetrope são candidatos a cirurgia refrativa”, sublinha a médica. São critérios de exclusão, dependendo da técnica escolhida: topografias corneais anormais, existência de outras patologias oculares de retina ou do nervo ótico, gravidez e patologias sistémicas como imunodepressão e outras. *Fonte: Estudo Epidemiológico das Ametropias em Portugal II, Universidade do Minho, 2013