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Hábitos que prejudicam a fertilidade

Colaboração
Entre 15% a 20% dos casais portugueses tem problemas em engravidar. A infertilidade pode ter diversas causas, mas há comportamentos que são de evitar. Saiba quais.

A idade é o principal obstáculo. Diminui ligeiramente a qualidade do esperma masculino e, sobretudo, a idade é “o fator que mais condiciona a fertilidade na mulher”, explica Daniela Sobral, ginecologista obstetra do Hospital Lusíadas Lisboa, especializada em Medicina da Reprodução.

O potencial de reprodução diminui apartir dos 35 anos e a possibilidade de uma mulher engravidar depois dos 40 anos é inferior a 10%. Em Portugal, 15% a 20% dos casais tem dificuldades em engravidar, segundo a Associação Portuguesa de Fertilidade.

De entre estes, Daniela Sobral estima que um terço dos casos corresponda a um problema masculino, um terço a infertilidade feminina, 20% a problemas de ambos e 20% se deva a causas desconhecidas. Clinicamente, a infertilidade é considerada ao fim de 12 meses de tentativas frustradas de gravidez. As causas divergem.

Na mulher:

  • Disfunções de ovulação

“Nomeadamente provocadas pela síndrome de ovário poliquístico, uma situação que é muito frequente, mas que pode ser ultrapassada.”

  • Obstrução das trompas de Falópio

“Na maioria dos casos resultante de infeções por clamídia, que podem ser evitadas usando preservativo.”

No homem:

  • Anomalias da quantidade, motilidade e forma dos espermatozoides

Na origem destes problemas podem estar patologias diversas e até doenças crónicas, como diabetes, cancro, doenças da tiroide, asma ou depressão. No entanto, há também alguns comportamentos que são reconhecidamente prejudiciais para a fertilidade dos homens e das mulheres e que é possível alterar.

Hábitos nocivos para a fertilidade

  • Dormir pouco

O repouso noturno é essencial ao bom funcionamento da hipófise, ou glândula pituitária, situada na base do encéfalo, no cérebro. Considerada uma espécie de “glândula mestra” do corpo, a hipófise é responsável pela produção de hormonas determinantes para a estimulação dos ovários, nas mulheres, e dos testículos, nos homens.

De acordo com um estudo publicado na revista científica Fertility & Sterility, oshomens que dormem menos de seis horas por noite têm uma probabilidade 31% menor de engravidar as suas parceiras do que os que descansam sete a oito horas por noite.

  • Má alimentação

A alimentação de um casal que está a tentar engravidar naturalmente ou a fazer tratamentos deve ser o mais saudável possível. “Sabemos que a dieta mediterrânica é vantajosa e que exagerar na fast food ou comer pouca fruta são fatores de infertilidade”, afirma Daniela Sobral.

“Em relação ao resto, é complicado, existem informações muito contraditórias”, explica a especialista, que aconselha bom senso e uma alimentação variada, “longe dos extremos”.

  • Exercício físico excessivo

Tal como o stresse elevado ou a falta de sono, abusar do exercício muito intenso perturba o funcionamento da hipófise, interferindo com o funcionamento dos testículos e dos ovários.

A utilização de drogas que simulam os efeitos da testosterona e aceleram o aumento de massa muscular aumenta o risco, tanto em homens quanto em mulheres. “Os esteroides anabolizantes são altamente prejudiciais em termos de fertilidade”, afirma Daniela Sobral. Entre os efeitos mais comuns estão a diminuição da libido e impotência nos homens.

As alterações hormonais têm igualmente um forte impacto no ovário e no útero da mulher e interferem no crescimento do endométrio, o que complica a fixação do embrião na parede do útero, dificultando a gravidez e aumentando a probabilidade de aborto.

  • Hábitos tabágicos

Fumar aumenta o risco de várias doenças, incluindo cancro, e afeta gravemente a fertilidade masculina e feminina. “No caso das mulheres, fumar chega a envelhecer os óvulos cerca de dez anos”, alerta a ginecologista, que considera o facto “altamente preocupante” nos dias de hoje, quando se sabe que cada vez mais mulheres tomam a decisão de engravidar pela primeira vez já muito depois dos 30 anos.

Nos homens, os efeitos dos cigarros são fundamentalmente dois: a perda de mobilidade e a fragmentação do DNA espermático, o que reduz a capacidade de fecundação.

  • Exagerar no álcool

Beber com moderação é um conselho válido para qualquer pessoa, mas às mulheres que pretendem engravidar Daniela Sobral pede que reduzam ao mínimo o álcool e recomenda mesmo tolerância zero a partir da confirmação da gestação.

Os homens apesar de tolerarem melhor o álcool, a partir das cinco doses semanais veem a qualidade do esperma piorar progressivamente.

Um estudo dinamarquês de 2016, publicado pela revista científica BMJ e citado pelo The Guardian, concluiu que os homens que consumiam 40 doses de álcool por semana revelavam uma contagem de espermatozoides 33% menor e um esperma 51% menos saudável do que aqueles que bebiam entre uma e cinco doses por semana.

  • Peso inadequado

Além de aumentar o risco de doenças como a diabetes e a hipertensão, a obesidade leva a alterações hormonais que colocam entraves à fertilidade do homem e da mulher.

Nos homens, a elevada percentagem de tecido adiposo provoca uma diminuição na produção de testosterona, hormona masculina, o que pode causar perda da libido e dificuldade de ereção, além de aumentar a quantidade de estradiol, uma substância que vai afetar os espermatozoides.

Quanto maior for o excesso de peso, menor é a qualidade do esperma. A concentração de espermatozoides nos homens com peso em excesso é 10% inferior à de um homem com peso médio, podendo essa diferença atingir os 20% nos casos de obesidade, e a mobilidade dos espermatozoides também é menor.

Nas mulheres, os desvios de peso interferem com a quantidade de estrogénio produzida e o desequilíbrio impede a ovulação. “Quando se fala de peso adequado não estamos só a falar de excesso. A anorexia na adolescência, por exemplo, aumenta o risco de entrar mais cedo na menopausa”, sublinha a especialista.

O excesso de estrogénios nas mulheres obesas é tão prejudicial como a escassez desta hormona feminina que se verifica nas mulheres muito magras ou desportistas com muito pouca massa gorda.

  • Temperaturas elevadas na zona testicular

Muito calor na zona do escroto prejudica a produção do esperma e sujeitar a zona testicular a temperaturas elevadas afeta a quantidade e motilidade dos espermatozoides. Os homens devem, por isso:

  • Evitar tomar banho com água demasiado quente;
  • Não trabalhar com o computador diretamente pousado no colo;
  • Preferir boxers aos slips;
  • Não usar roupa demasiado apertada nessa zona;
  • Evitar guardar o telemóvel no bolso.

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