As pessoas mais velhas precisam de dormir menos?
Uma boa noite de sono é importante para repouso do organismo e restabelecimento do seu equilíbrio natural. Tal como a alimentação e a água, o sono é vital. Uma vez por outra, é normal haver dificuldade em adormecer.
No entanto, há quem possa apresentar perturbações do sono mais importantes, como a insónia, que se pode estender por semanas ou mais. Por outro lado, a investigação científica mostra que com o passar dos anos, uma maior percentagem de pessoas tem dificuldade em dormir, mas será que isso significa que os idosos necessitam de menos horas de sono?
Dois tipos de sono
Os investigadores desta área sabem que, ao longo da noite, o sono passa por duas fases, em ciclos de aproximadamente 90 minutos de duração no seu conjunto: sono de movimento rápido dos olhos - em inglês conhecido pelo acrónimo REM -, onde se sonha habitualmente, e sono não-REM, precedendo o anterior, e em que se passa do sono mais leve até ao sono mais profundo.
Em geral, os adultos devem dormir entre sete e nove horas. As crianças e os adolescentes necessitam de mais horas de sono do que os adultos.
Dormir: mudanças da idade
Com o avançar da idade, vão surgindo várias alterações em relação às horas de sono e à sua qualidade. Geralmente, os idosos passam a deitar-se mais cedo e a acordarem também mais cedo. Um dado interessante é que, com a velhice, mesmo as pessoas que têm um sono normal, passam menos tempo no sono profundo e mais tempo no sono superficial na primeira fase do sono.
Em geral, há maior dificuldade em adormecer: um estudo em adultos com mais de 65 anos mostrou que 13% dos homens e 36% das mulheres demoram mais de 30 minutos a adormecer – os especialistas aconselham que quando não se adormece passados 15 minutos, se deve sair da cama, indo até à sala e esperar que o sono apareça. Além disso, os idosos têm uma maior tendência em acordar ao longo da noite. Todas estas alterações contribuem para o aumento da sonolência diurna nos idosos, que passam a recorrer frequentemente à sesta.
Algumas doenças neurológicas que se manifestam habitualmente após os 65 anos, como a doença de Alzheimer, podem estar associadas a dificuldades ainda maiores em conseguir dormir bem. Mas há também quem avance pela terceira idade sem dificuldade em dormir. Por este motivo, os problemas de sono não deverão ser banalizados e aceites como sendo um mal da idade.
Quem tem dificuldade em dormir e sente maior fadiga durante o dia, deverá consultar o seu médico.
Neurónios do sono
Independentemente dos problemas de sono, sabe-se que as pessoas mais velhas produzem menos melatonina, a hormona que promove o sono. E podem ser mais sensíveis a estímulos do ambiente, despertando mais facilmente ao longo da noite. Dois estudos recentes fornecem mais alguma informação sobre estas questões.
Um deles, publicado em 2010 por um grupo de investigadores ingleses, contabilizou as horas de sono em 110 adultos saudáveis, que não tinham problemas de sono. Em média, as pessoas com idade compreendida entre os 66 e os 83 anos dormiram seis horas e meia, menos 19 minutos do que os adultos entre os 40 e os 55 anos e menos 43 minutos do que os adultos entre os 20 e os 30 anos.
Estes resultados estão de acordo com outra investigação de 2014, realizada por investigadores da Universidade de Toronto, que demonstra que à medida que se envelhece, perde-se gradualmente um grupo de neurónios que regula o padrão do sono. "Quantas mais células se perdem, ao envelhecer-se, mais difícil é dormir", segundo Clifford Saper, investigador principal, que falou na altura com o jornal online Huffington Post. Quando se passa os 70 anos, dorme-se em média menos hora e meia do que aos 20 anos.
"Os idosos não se sentem descansados – eles levantam-se porque não conseguem dormir mais, mas continuam cansados durante o dia", disse o investigador, que referiu ser necessária a procura de novos fármacos que possam combater esta situação.
Em suma
Todos os dados indicam que, em geral, dorme-se menos na terceira idade. Isto não quer dizer que sejam necessárias menos horas de sono, já que esta dificuldade traduz-se muitas vezes em fadiga aumentada durante o dia.