A obesidade e suas consequências
A obesidade e as doenças metabólicas que a ela se associam (diabetes tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia e síndrome da apneia do sono) provocam a redução da esperança de vida e uma degradação rápida da qualidade de vida pois no seu conjunto originam sofrimento físico, psicológico e social.
Nas sociedades desenvolvidas a obesidade e o excesso de peso atingem já cerca de dois terços das populações e, na ausência de tratamentos simples satisfatórios, continua a crescer.
É, nessa medida, um dos principais problemas de Saúde Pública.
A prevenção e uma política educacional alimentar, de incentivo à atividade física, constituem o melhor tratamento.
O que é a obesidade ?
A obesidade consiste na acumulação excessiva de gordura no organismo humano.
Ter gordura em excesso (obesidade) leva a que os adipócitos comecem a produzir substâncias pró-inflamatórias que vão desencadear outros mecanismos conducentes ao aparecimento das componentes do Síndrome Metabólico (diabetes, hipertensão, dislipidemia e apneia do sono), aquelas que constituem a maior causa de morte nos países desenvolvidos, as doenças cardiovasculares e cerebrovasculares.
O excesso de gordura resulta da prática de comportamentos desajustados em relação ao que a nossa natureza (o nosso metabolismo) esperaria.
Na sociedade atual, mudámos para uma alimentação refinada, hipercalórica, rica em hidratos de carbono simples e de absorção rápida (açúcar e farináceos), rica em gordura e pobre em fibra.
Por outro lado, o sedentarismo facilita a instalação da obesidade.
Também o stress a que todos nós somos sujeitos é um fator importante no desencadear da obesidade.
A nossa genética evolui sempre mas não se conseguiu adaptar a uma mudança tão rápida nas condições de vida do Ser Humano.
Principais doenças resultantes da obesidade:
Entre as 236 doenças provocadas pela obesidade as principais são:
“Síndrome metabólico”
Diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, hipercolesterolemia e/ou hipertrigliceridemia, síndrome da apneia do sono.
Doenças resultantes de sobrecarga física
Doença degenerativa osteoarticular (artroses), insuficiência venosa dos membros inferiores, incontinência urinária, síndrome do túnel cárpico, hérnias discais, doença do refluxo gastro-esofágico.
Cancro
O doente obeso, sobretudo o do sexo feminino, tem 2,5 vezes mais probabilidade de ter um cancro (1,5 no homem). Os cancros mais frequentes na obesidade são o cancro da mama, do colo do útero, do endométrio, do ovário, do cólon e recto, do estômago e do pâncreas.
Outras doenças
Hiperuricemia e gota, litíase vesicular, fígado gordo e cirrose, pseudotumor cerebral, infertilidade, depressão, auto-isolamento, diminuição da auto-estima.
Como se pode tratar a obesidade?
Sendo uma doença com etiologia multifatorial com um componente genético importante pode-se dizer que não podemos curar a obesidade. Mas podemos controlá-la e reduzir ao mínimo as suas consequências.
Em primeiro lugar o tratamento da obesidade deve começar precocemente, nas fases iniciais da doença. O doente deve perceber que é uma doença crónica e progressiva cuja história natural é sofrer um agravamento progressivo à medida que a idade avança.
Quanto mais cedo se informar e resolver tratar, menor será o sofrimento e desgaste para o seu corpo e para a sua mente.
O tratamento da obesidade tem características diferentes de muitos outros, ele é:
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Crónico porque se trata de uma doença crónica.
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Multidisciplinar porque aspetos nutricionais, endócrinos, psicológicos e motores exigem aconselhamento de especialistas nestes campos do saber médico.
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Evolutivo porque deve sempre começar com alterações do seu estilo de vida, ou seja, melhorar a qualidade da sua alimentação e praticar mais atividade física.
Apenas depois de tentada e provada a ineficácia das tentativas de modificação do estilo de vida, devidamente apoiadas por profissionais de saúde ligados ao tratamento da obesidade, se deve avançar para patamares seguintes no tratamento.
São eles a medicação para controle da gordura, os métodos endoscópicos e a cirurgia bariátrica.
Tratamentos endoscópicos (balão intragástrico, “endosleeve”, manga duodenal) são promissores, mas ainda experimentais. A sua eficácia é superior à da medicação, mas bastante inferior à da cirurgia tendo igualmente efeitos transitórios com elevadas taxas de recuperação ponderal.
A cirurgia é, consensualmente, o melhor método para um resultado significativo e tendencialmente definitivo se cumpridos os preceitos definidos pela equipa multidisciplinar que prepara o doente para a cirurgia e o acompanha, cuidadosamente, no seguimento pós-operatório por um prazo longo, nunca inferior a cinco anos.
No nosso Centro Multidisciplinar de Tratamento da Obesidade a taxa de sucesso é superior a 98% e a taxa de recidivas da obesidade inferior a 5%.
Como funciona a cirurgia?
As operações metabólicas funcionam por meio de alterações da anatomia e fisiologia gastrointestinais que se repercutem:
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No processamento da fome e saciedade pelo cérebro humano;
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Nos órgãos de gestão energética (fígado e pâncreas);
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No ambiente bioquímico do sangue (metabolismo dos sais biliares);
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Por alteração do ambiente microbiológico no nosso tubo digestivo.
Chamamos “microbiota” ao conjunto dos microorganismos que vivem dentro do nosso tubo digestivo e são parceiros muito importantes na digestão e absorção dos nutrientes bem como na modulação da produção das hormonas do tubo digestivo (incretinas) que regulam a fome e a saciedade.
As operações mais conhecidas são, pela ordem da frequência com que são hoje praticadas:
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o “sleeve gástrico”;
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o bypass gástrico clássico (em Y de Roux);
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o bypass gástrico de anastomose única
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as derivações bilio-pancreáticas.
Técnicas mais modernas e com efeitos metabólicos mais intensos, dispensando os desagradáveis efeitos restritivo e disabsortivo (vómitos e diarreias) despontam no horizonte parecendo permitir melhores resultados (maior perda de peso e controle das doenças associadas) com menos complicações nutricionais a longo prazo, uma das fraquezas das técnicas mais clássicas. São elas a “bipartição do trânsito intestinal” e a “interposição ileal”.
No nosso Centro Multidisciplinar de Tratamento da Obesidade do praticamos todas estas técnicas com ênfase especial no bypass de anastomose única, no “Long Pouch Gastric Bypass” (técnica por nós desenvolvida em 2013) e na “Bipartição do trânsito intestinal”, técnica em que somos ainda hoje pioneiros em Portugal.
Esta última técnica revela-se extremamente eficaz no controle da diabetes, tem pouca restrição (os operados comem confortavelmente), tem menos défices nutricionais e permite manter o acesso endoscópico a todo o tubo digestivo evitando zonas cegas do mesmo.
Qual o papel da equipa multidisciplinar?
A equipa multidisciplinar tem funções importantíssimas:
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ajuda a caracterizar o doente de forma a poder estabelecer o melhor plano de tratamento possível.
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prepara o doente para o ato cirúrgico e para toda a transformação comportamental pretendida para o chamado “follow up”.
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complementa a ação médica no sentido de ajudar o doente a cumprir as regras de suplementação nutricional e o cumprimento do plano de acompanhamento, evitando o “drop out” do doente, fonte habitual de perda de eficácia do tratamento.
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acompanha o doente no seu trajeto, incentivando, ajudando a resolver situações de maior dificuldade ou mesmo inesperadas.
Cirurgia Revisional
O que é a Cirurgia Revisional?
Trata-se de um conjunto de intervenções cirúrgicas que são realizadas para otimizar a situação de um doente que já foi submetido a uma cirurgia metabólica.
Calcula-se que no conjunto das cirurgias para obesidade, diabetes, dislipidemia ou outras do síndrome metabólico, cerca de 20% vão recidivar, isto é, os resultados obtidos vão desvanecendo e os sintomas vão voltar.
Tipologia de doente:
O melhor exemplo prático é quando um doente fez vários tratamentos para a obesidade (dietas, nutricionistas, medicamentos, balão intragástrico) e finalmente se submete a uma intervenção, por exemplo: banda, sleeve ou bypass gástrico.
Esse doente perde peso, mantém durante 5 anos e depois começa a recuperar o peso, ou volta a exibir diabetes, entretanto curada, ou passa a ter um refluxo grave, ou seja, qualquer situação que obrigue a operar de novo para inverter o curso negativo da doença. Este tipo de evolução é próprio das doenças crónicas, e a obesidade e os componentes do síndrome metabólico são doenças crónicas.
As razões que levam a esta necessidade são de três tipos:
1 - O mais comum é o comportamento inadequado do doente. O doente procura “o milagre” de emagrecer, considerando a cirurgia a solução eficaz e definitiva. Mas na prática este doente não altera os seus comportamentos: alimentares, de atividade física, o stress ou o controle de adições como o álcool ou o tabaco.
2 - A natureza é reparadora e, quando a cirurgia intervêm em diversos mecanismos da gestão do metabolismo levando à perda de gordura, o nosso cérebro vai sempre continuar a tentar recuperar a gordura perdida (para manter a sua capacidade de sobrevivência) e consegue reparar, muito com base na emissão de células pluripotenciais (células-tronco adultas que podem autorrenovar-se ou diferenciar-se em tipos celulares especializados). Ao retirar parte do estômago, por exemplo, o doente deixa de ter fome porque lhe é removida a parte do estômago onde estão as células que produzem grelina, a hormona da fome. Um doente com um sleeve perde praticamente toda a fome, mas, ao fim de 5 anos, o seu organismo vai criar colónias de células no cólon que vão produzir alguma grelina e alguma fome regressa.
Ou seja, os efeitos que a cirurgia consegue tendem, numa pequena percentagem de casos, a desvanecer um pouco com o tempo e por esse motivo é necessária uma equipa multidisciplinar que apoie o doente na produção e consolidação efetiva de mudanças comportamentais que durem para o resto da sua vida, garantindo a permanência dos bons resultados. É uma janela de oportunidade de mudança que garante que os doentes entendem e cumprem um resultado excelente.
3) Depois de uma cirurgia metabólica e para além da recidiva do peso, com alguma frequência surgem sintomas que requerem tratamento que pode ser uma nova abordagem cirúrgica, como por exemplo, o aparecimento de refluxo gastro-esofágico depois de um sleeve, ou um “dumping” severo depois de um “bypass gástrico” clássico. Também estas são cirurgias revisionais e permitem recuperar a normalidade entretanto perdida.
As cirurgias revisionais podem classificar-se em 3 tipos:
a) Cirurgias de revisão - o doente já intervencionado que necessita fazer uma cirurgia de revisão que consiste numa pequena alteração com o objetivo de melhorar os resultados ou a qualidade de vida. Exemplo: bypass que originou uma perda de peso superior ao desejado ou o oposto. Acertam-se as medidas dos segmentos intestinais e consegue-se a correção. Neste caso, a cirurgia é a mesma, mas melhorada nos seus efeitos.
b) Cirurgia de conversão - o doente teve um bom resultado, recidivou e voltou a aumentar de peso. Neste caso pode ser reoperado para transformar a técnica cirúrgica inicial numa técnica mais potente (significa com mais efeitos metabólicos que a anterior) e assim consegue voltar ao peso antes conseguido.
c) Cirurgia de reversão - quando por algum motivo o doente precisa de "desfazer" a cirurgia e voltar a uma situação de normalidade. Um doente com uma banda deslocada que provoca uma estenose com vómitos repetidos pode ter de retirar a banda e voltando à anatomia e fisiologia normais.
As cirurgias revisionais podem classificar-se em 3 tipos:
a) Cirurgia de revisão - o doente já intervencionado que necessita fazer uma cirurgia de revisão que consiste numa pequena alteração com o objetivo de melhorar os resultados ou a qualidade de vida. Exemplo: bypass que originou uma perda de peso superior ao desejado ou o oposto. Acertam-se as medidas dos segmentos intestinais e consegue-se a correção. Neste caso, a cirurgia é a mesma, mas melhorada nos seus efeitos.
b) Cirurgia de conversão - o doente teve um bom resultado, recidivou e voltou a aumentar de peso. Neste caso pode ser reoperado para transformar a técnica cirúrgica inicial numa técnica mais potente (significa com mais efeitos metabólicos que a anterior) e assim consegue voltar ao peso antes conseguido.
c) Cirurgia de reversão - quando por algum motivo o doente precisa de "desfazer" a cirurgia e voltar a uma situação de normalidade. Um doente com uma banda deslocada que provoca uma estenose com vómitos repetidos pode ter de retirar a banda e voltar à anatomia e fisiologia normais.
Coordenação
Dr. Rui Ribeiro
Coordenador de General Surgery: Hospital Lusíadas Amadora
Units
Equipa Clínica
Fisiatria
Fisiatria
Marcações
Contacte o Centro Multidisciplinar de Tratamento da Obesidade através do número 968 442 030 ou veja as vagas disponíveis no nosso Portal