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Esquizofrenia: 10 respostas para entender

Estima-se que 1% da população mundial sofra desta condição. Neste artigo, respondemos a dez das perguntas mais comuns sobre esta doença.

Apesar de a saúde mental ser cada vez mais reconhecida como parte integrante e importante da saúde geral, ainda persiste um grande estigma em torno da esquizofrenia. Muito desse preconceito vem do desconhecimento sobre a doença e da forma como esta é retratada nos media.

No entanto, estima-se que 1% da população mundial sofra desta condição. Neste artigo, vamos responder às dez perguntas mais comuns sobre a doença e, quem sabe, ajudar a melhorar a perceção sobre os doentes que a enfrentam.

O que é a esquizofrenia?

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica crónica que se caracteriza por uma disrupção na forma como o cérebro funciona, que afeta partes importantes como o pensamento, a perceção, o comportamento, as emoções, os afetos e a interação social. Pode manifestar-se através de um ou mais sintomas em simultâneo.
As pessoas com esquizofrenia parecem, muitas vezes, perder a noção da realidade. Por isso, quando não tratada e controlada, esta doença pode ter um impacto significativo e negativo no quotidiano dos doentes, chegando a pôr essas pessoas em risco.

Quais os principais sintomas?

Um dos problemas da esquizofrenia é que muitos dos doentes não conseguem reconhecer os sintomas da doença, recaindo sobre a sua comunidade, familiares e amigos a responsabilidade de estarem alerta e saberem quando procurar ajuda.

Os sintomas desta doença podem pertencer a duas categorias diferentes.

Os sintomas positivos, ou psicóticos, que incluem:

- Delírios (alterações do pensamento): crença numa realidade falsa, mesmo quando existem provas em contrário. Por exemplo, acreditar que estão em perigo e que existe alguém que os persegue ou quer fazer mal;
- Alucinações (alterações de perceção): estes doentes podem ter os seus sentidos reféns de uma realidade que não existe. Para eles, estas alucinações são reais e podem afetar qualquer sentido, sendo a mais comum as auditivas, como por exemplo ouvir vozes;
- Alterações do discurso: por norma, possuem dificuldade em organizar os pensamentos enquanto falam ou em manter-se focados no que estão a dizer. Pode ser difícil para as pessoas com esquizofrenia manter conversas com os outros;
- Alterações do comportamento: as pessoas que sofrem de esquizofrenia podem apresentar um comportamento diferente do habitual e, muitas vezes, inapropriado para a situação social em que se encontram. Isso pode incluir agitação sem causa aparente, dificuldade em cumprir instruções, virar-se repetidamente sem motivo, entre outros. Em alguns casos, podem começar a limitar os seus movimentos ou mesmo a parar completamente de se mexer.

Os sintomas negativos, incluem:

- Dificuldades nas relações interpessoais: estes doentes podem não se comportar da mesma maneira que o faziam antes da doença. Podem começar a evitar o contacto visual, a deixar de mostrar emoções e a isolar-se socialmente;
- Motivação: é recorrente que percam a motivação nas atividades diárias, mesmo nas mais simples ou naquelas que anteriormente lhes davam mais prazer;
- Capacidade de experienciar o prazer: os doentes com esquizofrenia mostram, muitas vezes, incapacidade de sentir prazer;
- Raciocínio lógico e na atenção: podem perder a capacidade de planear o futuro e apresentar dificuldades no raciocínio e na atenção, levando a uma disfunção cognitiva que pode ter um impacto bastante significativo na sua vida.

É importante salientar que os sintomas não são iguais para todos os doentes e podem variar em tipo e gravidade, tendo cada doente um quadro clínico diferente.

De que forma estes sintomas afetam o dia a dia dos doentes?

Devido aos sintomas descritos, nos doentes não tratados é comum que a capacidade do indivíduo de levar uma vida “normal” seja afetada. Alguns destes doentes começam a sentir-se desconfiados, frequentemente com medo e suspeitas. Por norma, deixam de se preocupar com a higiene pessoal, passando a não tomar banho ou a realizar outras tarefas normais de uma rotina de higiene.

Os sintomas podem ainda associar-se a quadros de depressão e ansiedade.

Por fim, os doentes com esquizofrenia podem também consumir álcool em excesso, tabaco e drogas recreativas para tentar aliviar os sintomas que estão a sentir.

Quais as causas da esquizofrenia?

Não existe uma causa única e universal para o desenvolvimento da esquizofrenia. No entanto, estudos têm demonstrado que alguns fatores podem contribuir para o seu aparecimento:

-  Desequilíbrio dos sinais químicos que o cérebro usa para a comunicação entre células;
- Fatores relacionados com o neuro-desenvolvimento e com o surgimento de problemas durante a gestação;
- Perda da ligação entre diferentes áreas do cérebro;
- Fatores ambientais, como a exposição a drogas, nomeadamente o consumo de canabinóides;
- Os fatores genéticos são também considerados como tendo um papel na causa da esquizofrenia, existindo maior probabilidade de desenvolver esquizofrenia se ocorrer um caso da doença em elementos da família, sendo a probabilidade maior quanto maior o grau de parentesco.  

Quem pode desenvolver esta doença?

Qualquer pessoa pode vir a desenvolver esquizofrenia, incluindo crianças.
A doença manifesta-se mais frequentemente no final da adolescência e em jovens adultos, geralmente até aos trinta anos.
Nos homens, a esquizofrenia tende a aparecer de forma mais precoce, frequentemente na adolescência ou por volta dos vinte anos, apresentando um maior número e gravidade de sintomas.
Por outro lado, nas mulheres, os sintomas costumam surgir no final dos vinte ou no início dos trinta anos, sendo nalgumas diagnosticado mais tarde.

É importante notar que a esquizofrenia na adolescência pode ser mais difícil de detetar, pois alguns dos sintomas iniciais podem ser semelhantes ao comportamento “normal” dessa fase, como isolamento social, más notas, falta de motivação, irritabilidade, depressão e dificuldade em dormir.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da esquizofrenia é baseado num conjunto de sinais e sintomas, incluindo perguntas feitas ao doente, os sintomas descritos, a observação das ações e sinais da doença, e a forma como estes evoluem ao longo do tempo. Normalmente, são realizados outros exames de diagnóstico para excluir outras possíveis doenças com sintomas semelhantes. Não existem exames complementares de diagnóstico que façam o diagnóstico da esquizofrenia.

Para confirmar um caso de esquizofrenia, é necessário cumprir critérios específicos, segundo os principais sistemas de classificação das doenças psiquiátricas, como o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5-TR).

A esquizofrenia tem cura?

A esquizofrenia é uma doença mental crónica que se não for tratada tem episódios de descompensação aguda. Quando devidamente tratada, os sintomas são minimizados, os episódios de descompensação aguda prevenidos e os doentes conseguem ter uma vida com qualidade. Existem doentes, que podem alcançar o que se chama uma remissão da doença. 

Quais as formas de tratamento mais comuns? 

Tratar a esquizofrenia envolve o tratamento dos seus sintomas e a melhoria das alterações na função cerebral que a doença provoca. Para isso, os médicos dispõem de várias ferramentas, que geralmente envolvem uma combinação das seguintes:

- Medicação com Antipsicóticos: é um dos pilares do tratamento da esquizofrenia. Estes fármacos alteram a forma como as informações são transmitidas entre as células do cérebro. Estão comercializados em Portugal um conjunto amplo destes medicamentos, sendo que os mais recentes são eficazes, bem tolerados e com muito poucos efeitos adversos.
A utilização destes fármacos deve ser regularmente monitorizada pelo médico responsável. Em alguns casos, o profissional pode optar por uma combinação de fármacos, dependendo das necessidades específicas do doente;

- Psicoterapia: a terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ajudar o doente a lidar com a sua condição, além de tratar problemas associados à doença, como depressão, ansiedade e uso de substâncias;

- Intervenções de suporte social para reintegração funcional do doente: estas intervenções podem ajudar a quebrar o sentimento de isolamento que frequentemente afeta o doente, além de contribuir para que se sinta um membro funcional da comunidade;

- Eletroconvulsivoterapia (ECT): normalmente utilizado como último recurso, este procedimento consiste na estimulação elétrica cerebral induzida num ambiente controlado, com o objetivo de desencadear uma convulsão generalizada.
Para realizar este tratamento, o doente deve cumprir vários critérios específicos.

Importa notar que, na esquizofrenia, para que qualquer tratamento alcance o seu potencial máximo, é essencial a adesão terapêutica do doente e a implementação de estratégias de suporte para a prevenção de recaídas.

Quais as razões que tornam a esquizofrenia preocupante?

O não tratamento da esquizofrenia leva à deterioração do estado clínico do doente, sendo muito difícil ter uma vida com qualidade, de forma autónoma e independente. O não tratamento pode levar também a complicações da doença como depressão e comportamento suicida.  

Por isso, é fundamental estar atento, garantir que a pessoa não interrompe a medicação e, ao menor sinal de agravamento dos sintomas ou pensamentos depressivos, procurar ajuda psiquiátrica, pois pode ser necessário ajustar a medicação.

Como ajudar alguém com esquizofrenia?

Antes do diagnóstico, é crucial estar atento aos sintomas e ajudar o doente a compreender a necessidade de ser avaliado por um psiquiatra. Embora não seja possível obrigar a pessoa a procurar ajuda, é essencial oferecer apoio.

Perguntar ao doente o que pode fazer para ajudá-lo é um bom primeiro passo. Ouvir o doente sem julgamentos ou discussões, mesmo que se tenha boas intenções e queira apenas o seu bem-estar, é fundamental para manter a comunicação e a confiança. Esta confiança pode facilitar a compreensão do doente sobre como o tratamento pode aliviar os sintomas e ajudá-lo a distinguir o que é real do que não é.

Mantenha a calma. Normalmente, pessoas com esta patologia que podem ter alucinações ou delírios não respondem bem à pressão para procurar ajuda, pois têm dificuldade em distinguir a realidade da doença.

A esquizofrenia num membro da família pode ser assustadora, devido à incapacidade e dificuldade em levar uma vida funcional. No entanto, apesar do preconceito, os tratamentos podem ajudar a silenciar os sintomas permitindo que a pessoa tenha uma vida feliz e autónoma.

Caso note algum sinal de psicose ou esquizofrenia, fale com um profissional de saúde sobre como abordar a situação e tente convencer a pessoa, de forma calma, a procurar psiquiatras especializados nesta doença. Quanto mais cedo for detetada e tratada, maior a probabilidade de recuperação e manutenção de uma vida normal.

O Hospital Lusíadas Monsanto é especializado em saúde mental e oferece um serviço pioneiro e inovador. Desde o diagnóstico até ao tratamento e acompanhamento, garantimos que está em boas mãos.
 

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Prof. Dr. Ricardo Coentre

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