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Como lidar com a compulsão alimentar: o papel da nutrição

Colaboração
A compulsão alimentar consiste em consumir alimentos numa quantidade excessiva, num período de tempo muito curto, e é acompanhada pelo sentimento de perda de controlo. Descubra o que fazer para lidar com este tipo de transtorno alimentar com as dicas da nutricionista Beatriz Vieira.

Esta perturbação do comportamento alimentar caracteriza-se pela ingestão de uma elevada quantidade de alimentos num curto período de tempo, ou seja, por um consumo de uma quantidade definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria no mesmo período de tempo sob circunstâncias semelhantes.  
 
Habitualmente, este período de tempo é inferior a 2 horas, surge acompanhado por um sentimento de perda de controlo e não está associado a comportamentos compensatórios, como indução do vómito ou utilização de laxantes. 
 
Quais os sinais do transtorno de compulsão alimentar? 
 
De acordo com o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5),l para ser considerado transtorno de compulsão alimentar, esta ingestão alimentar compulsiva deve ser acompanhada por um sofrimento marcado e por, pelo menos, três das seguintes características:  
 

  1. Consumir alimentos mais rápido do que o normal;  
  2. Comer até se sentir excessivamente cheio;  
  3. Ingerir grandes quantidades de alimentos sem sentir fome;  
  4. Comer sozinho para evitar o constrangimento associado à elevada quantidade de alimentos consumidos; 
  5. Sentimento de culpa após o episódio de compulsão alimentar.  

 
Além disso, os episódios de compulsão alimentar devem ocorrer, pelo menos, uma vez por semana durante 3 ou mais meses. 
 
Como é feito o diagnóstico de doenças de comportamento alimentar?  
 
A prevalência de doenças do comportamento alimentar é, muitas vezes, subdiagnosticada, uma vez que estes indivíduos tendem a esconder os seus comportamentos, negando a sua existência, mesmo quando confrontados com a situação.  
 
Quem está mais propenso a desenvolver este tipo de compulsão?  
 
Segundo o DSM-5, a prevalência de 12 meses do transtorno de compulsão alimentar entre adultos norte-americanos é de 1,6% no sexo feminino e 0,8% no sexo masculino. Habitualmente, surge na adolescência ou no início da idade adulta, mas pode ter início posteriormente.  
 
Sabe-se que a prevalência de transtorno de compulsão alimentar é frequente nos indivíduos que procuram tratamento para o excesso de peso. A evidência científica tem demonstrado que a obesidade está frequentemente associada a perturbações do foro psicológico, nomeadamente à ansiedade e depressão. Uma vez que os indivíduos com um maior índice de massa corporal são mais vulneráveis à discriminação, existe muitas vezes associado um sentimento de insatisfação com a imagem e o peso corporal, aumentando o risco de desenvolver perturbações do comportamento alimentar.  
 
Indivíduos com história de compulsão alimentar referem com frequência que é sob certas emoções que esses períodos de ingestão alimentar compulsiva são despoletados.  
Importa realçar que apesar do transtorno de compulsão alimentar ser associado ao excesso de peso, também ocorre em indivíduos com um peso considerado adequado para a altura. 
 
Quais as principais consequências de comer compulsivamente?  
 
As perturbações do comportamento alimentar causam diversos problemas de natureza física. Nos indivíduos com um transtorno de compulsão alimentar, verifica-se uma maior incidência de hipertensão arterial, doença cardiovascular, diabetes e obesidade. No entanto, também pode ter consequências ao nível da saúde mental, nomeadamente ansiedade e depressão, que contribuem para uma diminuição da qualidade de vida. 
 
O nutricionista pode ajudar neste tipo de casos? 
 
Sim e de facto os nutricionistas têm um papel muito importante no acompanhamento, tratamento e recuperação de vários transtornos e compulsões alimentares.  
 
A atuação do nutricionista perante as doenças do comportamento alimentar é sempre um desafio, uma vez que a mudança de comportamentos e hábitos alimentares não é fácil. Acaba por não existir uma abordagem padrão e universal, nem um protocolo reconhecido – cada caso é um caso. A intervenção deve ser sempre individualizada e personalizada e é essencial estabelecer uma relação de confiança entre profissional e doente para garantir uma aumentar a adesão à intervenção adotada. 
 
O principal objetivo do nutricionista é realizar uma reeducação alimentar, sendo que o tratamento deve envolver uma equipa multidisciplinar de forma a abranger todas as dimensões da doença. 

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Revisão Científica

Dra. Beatriz Vieira

Dra. Beatriz Vieira

Coordenador da Unidade de Nutrição Clínica

Hospital Lusíadas Amadora
PT